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Artigo Científico Prof. Jonathas Moreira - PARTE 5
Por Vander Juliano Escudero (Professor), em 2016/05/22244 leram | 0 comentários | 37 gostam
PLASTICIDADE DO TRABALHO, POLÍTICAS PÚBLICAS E MOBILIDADE FORÇADA: um estudo com trabalhadores do Assent. Gleba XV de Novembro

Jonathas Moreira Silva
jonathas.moreira007@gmail.com

Orientador:
Fernando Mendonça Heck
fernandomheck@gmail.com
possa pôr em pratica o que aprendeu em sua formação técnica.
Dessa maneira percebemos que os recursos públicos destinados à formação desses jovens não estão gerando possibilidades efetivas para a manutenção dos mesmos em seus lotes. No caso especifico do entrevistado, ele relata que, se houvesse políticas públicas eficientes no tocante ao aproveitamento de sua formação, ele não sairia do lote em busca de emprego.
  Como não é nosso objetivo central no artigo discutir a agroecologia, indicamos o trabalho de monografia do Prof. Diógenes Rabello intitulado “Campesinato e agrohidronegócio canavieiro no Pontal do Paranapanema: os desafios para a transição agroecológica” referência para pensar as práticas agroecológicas no Pontal do Paranapanema.

No entanto, sem alternativa atualmente Douglas migra com frequência para Maringá trabalhar em obras de construção civil. Na cidade além da extenuante experiência do trabalho assalariado, narra que o alojamento onde reside durante a obra, consiste numa casa alugada em bairro afastado, com apenas 3 quartos, sala, cozinha e 1 banheiro, onde ficam alojados cerca de 17 pessoas. O transporte até a obra é realizado através de van, com capacidade para transportar apenas 12 pessoas e além da superlotação, o veículo encontra-se em péssimas condições. No canteiro da obra , existem vários problemas, sendo o mais sério, no tocante a segurança com os riscos a integridade física, pois o mesmo fica exposto à elevada altura sem equipamentos de proteção como cinto de segurança e roupa própria para atividade laboral.
Ademais, os trabalhadores trabalham por diárias, ou seja, só recebem os dias trabalhados, sábado e domingo não são remunerados e as horas extras são pagas sempre faltando muitas horas de trabalho além de não possuírem vínculo empregatício com a empreiteira da obra.
Esse conjunto de fatores vividos por Douglas são frutos do metabolismo do capital que impõe a migração forçada e no caso específico da sua condição de assentado da ineficiência das políticas públicas para permanência no campo, as quais são destinadas pelo Estado com recursos de maior monta para o incentivo da grande agricultura oligopolista empresarial. Por isso, a situação vivida por Douglas e que atinge outros camponeses no assentamento Gleba XV de Novembro, faz parte de uma mobilização para o trabalho imposta. Igualmente, a mobilidade forçada refaz constantemente a plasticidade do trabalho e possui relação com a prioridade do Estado na política agrícola onde privilegia a agricultura empresarial em detrimento da agricultura camponesa que gera mais empregos no campo e é responsável pela maior fatia de produção de alimentos.
Dezilda , também migra diariamente para o trabalho na cidade de Rosana (SP). No entanto, a sua rotina de trabalho diária possui uma mescla entre a condição camponesa e assalariada. Conforme a trabalhadora sua rotina diária inicia-se as 05:30 da manhã. Antes de ir para o seu emprego na Escola Estadual Ribeirinhos enquanto funcionária pública da Prefeitura Municípal de Rosana-SP designada para a função de serviços gerais, ela alimenta os animais, porcos e galinhas em seu lote e depois segue para escola onde trabalha iniciando a jornada de trabalho que vai das 07:00 da manhã às 15:00. Ao retornar ao lote ela ainda tem tarefas a cumprir como providenciar água e sal para o gado. Por falta de tempo Dezilda narra que por ora não está tirando leite e no momento apenas cria o gado para engorda e venda dos bezerros.
  O entrevistado desempenha a função de ajudante de armador.
  Entrevista realizada dia (29/09/2014), na casa da entrevistada, Gleba XV de Novembro, setor três.

Numa condição parecida à de Dezilda está o assentado Gilmar . Sua rotina diária inicia as 05h30min da manhã, quando começa a fazer o percurso com a perua escolar , indo até as casas dos alunos que fazem parte de seu trajeto. Segundo o entrevistado esse emprego como motorista consome boa parte de seu tempo, pois o mesmo trabalha em três períodos. Nas “brechas” de tempo que lhe restam Gilmar desempenha atividades no seu lote do assentamento. Como ele mesmo narrou, no período matutino sai às 05h30min transportando os alunos que estudam pela manhã retornando para o assentamento às 07h20min onde aproveita para tirar leite de algumas vacas e alimentar os outros animais. Às 11h45min retorna para escola e após levar todos os alunos para suas casas, começa o transporte dos alunos do período vespertino. Retorna para seu lote às 13h20min e destina seu tempo para os afazeres do lote, pois às 17h30min tem de retornar para escola transportar os alunos dos períodos da tarde e noite sendo que às 23h00min tem de retornar para escola para findar sua trajetória de trabalho diária.
Com isso, percebe-se que na trajetória diária de trabalho de Dezilda e Gilmar também se expressa o movimento da plasticidade do trabalho, pois os dois desempenham atividades em condição camponesa e assalariada num mesmo dia. Trata-se de uma mobilidade forçada, pois, Dezilda e Gilmar apontam em suas narrativas que as políticas públicas não são efetivas para permanência no assentamento, haja vista que o número de assentados que estão saindo em busca de trabalho fora do assentamento aumenta a cada ano o que inclui seus próprios filhos.
Não obstante, ambos jamais pensaram em abandonar seus lotes e alimentam o desejo de viver apenas da produção dos mesmos. No entanto, sem essa opção mobilizam sua força de trabalho forçadamente, já que as políticas públicas existentes não estão sendo eficientes ao ponto da maioria dos assentados viverem de seus respectivos lotes. Portanto, a busca por emprego fora dos assentamentos não se trata de uma escolha, mas de uma imposição.
  Entrevista realizada na casa do entrevistado nos dias (13 e 20/09/2014), Gleba XV de Novembro, setor três.
   Gilmar trabalha como empregado numa empresa que realiza translado de alunos entre suas casas e a Escola Estadual Ribeirinhos nos períodos da manhã, tarde e noite.
Considerações Finais

Pelo exposto ao longo do artigo se percebe que a conquista do território não é suficiente para a efetiva manutenção na terra. Com isso, não alinhamo-nos às perspectivas conservadoras que afirmam a inviabilidade da reforma agrária no Brasil observando que a evasão nos assentamentos é grande e dessa forma atestam o fracasso da reforma agrária no Brasil sem tocar nos pilares fundamentais da permanência no campo. Pelo contrário, defendemos aqui a atualidade da questão agrária no Brasil e a necessidade de uma política pública agrícola que efetivamente vincule-se a dar condições materiais de manutenção e reprodução da agricultura camponesa.
A falta das políticas públicas à pequena agricultura, ou melhor, a sua pouca representatividade específica no campo é fruto das apostas do Estado na grande agricultura empresarial oligopolista. Disso resulta a mobilidade forçada dos assentados que redesenha constantemente a plasticidade do trabalho, conforme observamos na pesquisa com os trabalhadores entrevistados.
É isso que faz com que Douglas, Diego, Gilmar e Dezilda tenham de mobilizar forçosamente sua força de trabalho para atividades fora do assentamento. É esse movimento da plasticidade do trabalho que os leva a inserir-se num mesmo dia enquanto camponês e proletário, vivenciando diferentes formas de exploração.
No entanto, se a mobilidade é forçada, o desejo de permanecer na terra parece ser uma constante e por isso entendemos na esfera da resistência camponesa. Seja aqueles assentados que migram para as cidades mais distantes quanto àqueles que trabalham no próprio assentamento e como empregado nas cidades locais buscam o emprego pela ausência das políticas públicas e com isso procuram angariar recursos para manter-se nos lotes. Esse elemento subjetivo é fundamental para entender a identidade dos assentados com a terra de trabalho (OLIVEIRA, 2001) e a imposição do assalariamento/proletarização como condição imposta pela ausência de uma política pública efetiva.
 Com isso observamos que mesmo com todas as dificuldades de se manter nos lotes, percebeu-se que não há uma tendência homogênea na qual todos os assentados estão dispostos a deixar o seu território migrando para as cidades. Entender o movimento da plasticidade do trabalho torna-se fundamental, pois possui uma relação direta com a mobilidade forçada dos trabalhadores através da venda da sua força de trabalho. Contudo, o desejo em permanecer na terra e a identidade com a terra de trabalho em detrimento da grande agricultura empresarial reviva a luta dos trabalhadores por reforma agrária e mantém viva a questão agrária no Brasil.


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