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Do Estado Novo para a atualidade
Por Rita Braga (Aluna, 12ºG), em 2020/04/24256 leram | 0 comentários | 63 gostam
Durante o período do Estado Novo, verificou-se uma enormíssima repressão. Recorreu-se, também, à violência sobre o povo português, como forma de manter o regime, sem oposição, impedindo que ideias que o pusessem em causa fossem difundidas.
Segundo a voz de António de Oliveira Salazar, as pessoas punidas pelo regime eram, sobretudo, «(…) temíveis bombistas que se recusavam a confessar (…)», banalizando, ainda, a violência utilizada como «(…) meia dúzia de safanões (…)». O ditador afirmava convictamente perante o povo que esse seria o meio mais eficaz de combater os perigos da sociedade e de fazer os prevaricadores confessarem nada mais do que a verdade.
Quem seriam os alvos mais convenientes à ditadura que vigorava? Os meios de comunicação foram dos setores mais afetados pela censura (lápis azul), que controlava toda a informação passada ao povo, de forma a mantê-lo a favor do regime e a persuadi-lo a apoiar o mesmo. Eram perseguidos e presos massivamente operários e trabalhadores rurais, porém, os membros do partido comunista, como Álvaro Cunhal e Bento Gonçalves, eram considerados o cérebro da rede, logo, o principal núcleo a abater. Precisamente com essa finalidade, foram criadas forças estatais, tais como a PVDE e a PIDE, polícias políticas, vistos, por muitos, como a « (…) espinha dorsal do sistema (…)».
  Essas redes tinham informadores por toda a parte e eram detentoras do poder de prender qualquer pessoa com base numa mera desconfiança, sem apresentar certezas ou até provas que fundamentassem a acusação. Sabe-se, através de inúmeras testemunhas sobreviventes, que as torturas eram tenebrosas e as condições nas prisões extremamente precárias, destacando-se o tratamento violentíssimo e desumano.
É de salientar o temível Tarrafal - campo da morte. Esse campo de concentração funcionava em Cabo Verde, uma colónia portuguesa, na altura, e para lá eram transferidos grandes grupos de presos políticos. Daquele local são conhecidas as mais arrepiantes histórias por que centenas de portugueses passaram. Uns faleciam de doença, outros eram torturados até à morte. Uma estrutura, vulgarmente conhecida como «frigideira», era, a meu ver, o mais macabro dos castigos. Os presos eram postos lá quando se comportavam de forma, considerada pelo comandante do campo, inadequada. Era um cubículo em cimento, sem janelas ou qualquer luz interior, onde a temperatura oscilava entre os 40ºC e os 60ºC. A situação mais comum era as pessoas morrerem desidratadas. A maioria não resistia a tudo isto. Todavia, os que assistiram e ultrapassaram tão macabras adversidades recordam-nas, indubitavelmente, de forma traumática.
  Os 41 anos do “Estado Novo” tiveram fim no dia 25 de abril de 1974, com a famosa “Revolução dos Cravos”. Presentemente, constata-se que Portugal é um exemplo do modelo democrático. No entanto, de ano para ano, a abstenção aumenta no nosso país e atinge números claramente preocupantes, por exemplo, os quase 50% verificados nas últimas eleições legislativas. Isto leva-me, então, a questionar até que ponto valeu a pena todo o sangue derramado, luta incansável, resistências e movimentos contra a ditadura que tiveram consequências calamitosas para conquistar liberdades e direitos que são, agora, desperdiçados de ânimo leve? Até quando isto vai durar? Eu posso ser apenas uma adolescente, mas em breve serei uma jovem adulta que se preocupa em tocar consciências para evitar um futuro que remeta para um vergonhoso retrocesso a um passado de repressão. Será esse o caminho que os portugueses querem construir? Oxalá, não, porém, para isso, temos todos de usar uma das conquistas do 25 de abril: o direito ao voto que, sem abstenções, é base da democracia.
  


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