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Apreciação Crítica Literária "A Vida no Céu"
Por Rui Miranda (Aluno, 10ºB), em 2016/04/162162 leram | 0 comentários | 149 gostam
De José Eduardo Agualusa para o mundo, “A Vida no Céu” é um dos mais recentes romances do escritor e o livro escolhido, na nossa escola, para a primeira fase do Concurso Nacional de Leitura do Ensino Secundário 2016.
De raízes africanas, José Eduardo Agualusa nasceu no Huambo, em Angola, em 1960. Licenciado em Agronomia e Silvicultura, acabou por fazer da escrita a sua vida. Sem nunca esquecer as suas origens, José Eduardo Agualusa tem grande parte da sua obra inspirada no continente africano, destacando-se os livros “Nação Crioula”, “As Mulheres do Meu Pai” e “O Vendedor de Passados”. “A Vida no Céu” é o seu primeiro romance para jovens e está incluído no Plano Nacional de Leitura.
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“DEPOIS QUE O MUNDO ACABOU FOMOS PARA O CÉU.
O grande desastre – o Dilúvio – aconteceu há mais de trinta anos. O mar cresceu e engoliu a terra. A temperatura à superfície tornou-se intolerável. Em poucos meses fabricaram-se centenas de enormes dirigíveis. (…) A maioria deles resistiu, infelizmente, pouco tempo. Caíram. Afundaram-se no mar. Dez anos depois do Dilúvio já só permaneciam entre as nuvens uns dois milhões de pessoas. (…)
Chamo-me Carlos Benjamim Tucano, e nasci há dezasseis anos, numa aldeia, Luanda, que junta mais de trezentas balsas. (…) O meu pai, Júlio Tucano, desapareceu durante um temporal. Caiu enquanto tentava socorrer uma balsa, incendiada por um raio. (...) Em Luanda, todos se convenceram de que morrera na queda. (…) Todos, menos eu.”
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     Assim começa este romance. Num futuro não muito distante, no qual a vida na Terra deixa de ser possível, Carlos Tucano, um adolescente angolano que perdeu o seu pai, Júlio, numa tempestade, é o protagonista desta história. Após investigar as rotas de vários dirigíeis, Carlos deixa a aldeia onde nasceu e parte em busca de respostas no dirigível mais belo do mundo, Paris, onde os mais pobres vivem aprisionados e são explorados pelos mais ricos. Em Paris, Carlos conhece Aimée, uma rapariga rebelde que quer descobrir o mundo, e Sibongile, uma curandeira sul-africana, que prometem ajudá-lo. A história acaba por sofrer uma reviravolta quando Carlos descobre que o seu pai havia sido capturado pelo temível pirata Boniface, que toma controlo do dirigível com o objetivo de encontrar a Ilha Verde, o último lugar habitável da Terra. Entre várias aventuras, cabe a Carlos, Aimée e Sibongile a missão de salvar Júlio, libertar a população de Paris, descobrir a Ilha Verde e proteger o frágil ecossistema do último local à superfície da Terra onde existe vida.
     O livro inclui, no início de cada capítulo, entradas do Dicionário dos Nefelibatas - aqueles com a cabeça nas nuvens – nas quais é possível refletir sobre o significado filosófico de algumas palavras do ponto de vista dos admiradores de nuvens.
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“Liberdade: condição de um ser não sujeito ao constrangimento de limites físicos ou de pensamento. A possibilidade de correr sem tropeçar em muros ou paredes, ou sem cair no vazio. O capim crescendo para o céu. O destino de todos os perfumes, em particular do cheiro da terra molhada.”
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     Apesar de tudo, este livro possui certos aspetos negativos que é importante sublinhar. Por um lado, a escrita do autor e as falas do protagonista não manifestam as raízes angolanas que ambos partilham através de “uma língua mestiçada, em que a gramática rebenta porque o pensamento acontece de outro modo e tem de ser livre de acontecer” como diria a escritora Teolinda Gersão. Por outro lado, esperava-se uma história arrebatadora e cativante, mas, infelizmente, a falta de desenvolvimento e descrição das personagens e do mundo deixam muito a desejar. No entanto, “A Vida no Céu” parte de uma ideia brilhante, a linguagem bastante acessível e o breve dicionário dos nefelibatas que está incluído tornam este livro único e agradável de ler.
     Carlos relata as suas aventuras ao mesmo tempo que dá a conhecer os mistérios que existem no céu e nos ajuda a decifrar as nuvens, levando-nos a refletir sobre a liberdade, a esperança, a discriminação, o quanto evoluímos no que diz respeito à proteção da biodiversidade e sustentabilidade do planeta Terra e o caminho que ainda temos para percorrer. Recomendo este livro pois, embora com uma falta de detalhes na narração, José Eduardo Agualusa conta-nos, de uma forma criativa, a história intensa da sociedade de um futuro não muito distante que, em consequência das alterações climáticas que provocou, se viu obrigada a deixar o seu passado para trás e viver para o céu, sonhando um dia receber uma segunda oportunidade para regressar à terra perdida.


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