O ESPÍRITO SANTO PROTAGONISTA DA MISSÃO | |
Por Silvério Parada Junior (Leitor do Jornal), em 2013/01/30 | 496 leram | 0 comentários | 134 gostam |
Leia o a primeira parte do capitulo da Encíclica Redemptoris Missio, do Papa João Paulo II, que trata do Espírito Santo como fundamento de todo missionário. | |
21. “No ápice da missão messiânica de Jesus, o Espírito Santo aparece-nos, no mistério pascal, em toda a Sua subjetividade divina, como Aquele que deve continuar agora a obra salvífica, radicada no sacrifício da cruz. Esta obra, sem dúvida, foi confiada aos homens: Aos Apóstolos e à Igreja. No entanto, nestes homens e por meio deles, o Espírito Santo permanece o sujeito protagonista transcendente da realização dessa obra, no espírito do homem e na história do mundo.” Verdadeiramente o Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial: a Sua obra brilha esplendorosamente na missão ad gentes, como se vê na Igreja primitiva pela conversão de Cornélio (cf. At 10), pelas decisões acerca dos problemas surgidos (cf. At 15), e pela escolha dos territórios e povos (cf. At 16, 6s). O Espírito Santo age através dos Apóstolos, mas, ao mesmo tempo, opera nos ouvintes: “Pela Sua ação a Boa Nova ganha corpo nas consciências e nos corações humanos, expandindo-se na história. Em tudo isto, é o Espírito Santo que dá a vida”. O envio “até aos confins da terra” (At 1, 8) 22. Todos os evangelistas, ao narrarem o encontro de Cristo Ressuscitado com os Apóstolos, concluem com o mandato missionário: “Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra Ide, pois, ensinai todas as nações (...) Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 18-20; cf. Mc 16, 15-18; Lc 24, 46-49; Jo 20, 21-23). Esta missão é envio no Espírito, como se vê claramente no texto de S. João: Cristo envia os Seus, ao mundo, como o Pai O enviou a Ele; e, para isso, concede-lhes o Espírito. Lucas põe em estreita relação o testemunho que os Apóstolos deverão prestar de Cristo com a ação do Espírito, que os capacitará para cumprir o mandato recebido. 23. As várias formas do “mandato missionário” contêm pontos em comum, mas também acentuações próprias de cada evangelista; dois elementos, de fato, encontram- se em todas as versões. Antes de mais, a dimensão universal da tarefa confiada aos Apóstolos: "todas as nações" (Mt 28, 19); "pelo mundo inteiro, a toda a criatura" (Mc 16, 15); "todos os povos" (Lc 24, 47); "até aos confins do mundo" (At 1, 8). Em segundo lugar, a garantia, dada pelo Senhor, de que, nesta tarefa, não ficarão sozinhos, mas receberão a força e os meios para desenvolver a sua missão; estes são a presença e a potência do Espírito e a assistência de Jesus: "eles, partindo, foram pregar por toda a parte, e o Senhor cooperava com eles" (Mc 16, 20). Quanto às diferenças de acentuação no mandato, Marcos apresenta a missão como proclamação ou querigma: "anunciai o Evangelho" (Mc 16, 15). O seu evangelho tem como objetivo levar o leitor a repetir a confissão de Pedro: "Tu és o Cristo" (Mc 8, 29) e a dizer como o centurião romano diante de Jesus morto na cruz: "verdadeiramente este Homem era o Filho de Deus" (Mc 15, 39). Em Mateus, o acento missionário situa-se na fundação da Igreja e no seu ensinamento (cf. Mt 28, 19-20; 16, 18); nele, o mandato evidencia a proclamação do Evangelho, mas enquanto deve ser completada por uma específica catequese de ordem eclesial e sacramental. Em Lucas, a missão é apresentada como um testemunho (cf. Lc 24, 48; At 1, 8), principalmente da ressurreição (At 1, 22); o missionário é convidado a crer na potência transformadora do Evangelho e a anunciar a conversão ao amor e à misericórdia de Deus — que Lucas ilustra muito bem —, a experiência de uma libertação integral até a raiz de todo o mal, o pecado. João é o único que fala explicitamente de "mandato" — palavra equivalente a "missão" — e une diretamente a missão confiada por Jesus aos seus discípulos, com aquela que Ele mesmo recebeu do Pai: "assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Jesus, dirigindo-se ao Pai, diz: "assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os envio ao mundo" (Jo 17, 18). Todo o sentido missionário do Evangelho de S. João se pode encontrar na "Oração Sacerdotal": a vida eterna é "que Te conheçam a Ti, único Deus Verdadeiro, e a Jesus Cristo, a Quem enviaste" (Jo 17, 3). O fim último da missão é fazer participar na comunhão que existe entre o Pai e o Filho: os discípulos devem viver a unidade entre si, permanecendo no Pai e no Filho, para que o mundo conheça e creia (cf. Jo 17, 21.23). Trata-se de um texto de grande alcance missionário, fazendo-nos entender que somos missionários sobretudo por aquilo que se é, como Igreja que vive profundamente a unidade no amor, e não tanto por aquilo que se diz ou faz. Portanto os quatro Evangelhos, na unidade fundamental de mesma missão, manifestam todavia um pluralismo, que reflete as diversas experiências e situações das primeiras comunidades cristãs. Também esse pluralismo é fruto do impulso dinâmico do Espírito, convidando a prestar atenção aos vários carismas missionários e às múltiplas condições ambientais e humanas. No entanto, todos os evangelistas sublinham que a missão dos discípulos é colaboração com a de Cristo: "Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20). Assim a missão não se baseia na capacidade humana, mas na força de Cristo ressuscitado. O Espírito guia a missão 24. A missão da Igreja, tal como a de Jesus, é obra de Deus, ou, usando uma expressão frequente em S. Lucas, é obra do Espírito Santo. Depois da ressurreição e ascensão de Jesus, os Apóstolos viveram uma intensa experiência que os transformou: o Pentecostes. A vinda do Espírito Santo fez deles testemunhas e profetas (cf. At 1, 8; 2, 17-18), infundindo uma serena audácia, que os leva a transmitir aos outros a sua experiência de Jesus e a esperança que os anima. O Espírito deu-lhes a capacidade de testemunhar Jesus "sem medo". Quando os evangelizadores saem de Jerusalém, o Espírito assume ainda mais a função de "guia" na escolha tanto das pessoas como dos itinerários da missão. A Sua ação manifesta-se especialmente no impulso dado à missão que, de fato, se estende, segundo as palavras de Cristo, desde Jerusalém, por toda a Judéia e Sumária, e vai até aos confins do mundo. Os Atos dos Apóstolos referem seis "discursos missionários", em miniatura, que foram dirigidos aos judeus, nos primórdios da Igreja (cf. At 2, 22-39; 3, 12-26; 4, 9-12; 5, 29-32; 10, 34-43; 13, 16-41). Estes discursos-modelo, pronunciados por Pedro e por Paulo, anunciam Jesus, convidam a "converter-se", isto é, a acolher Jesus na fé e a deixar-se transformar n'Ele, pelo Espírito. Paulo e Barnabé são impelidos pelo Espírito para a missão entre os pagãos (cf. At 13, 46-48), mesmo no meio de tensões e problemas. Como devem viver os pagãos convertidos, a sua fé em Jesus? Ficam eles vinculados à tradição do judaísmo e à lei da circuncisão? No primeiro Concílio, que reúne em Jerusalém, à volta dos Apóstolos, os membros das diversas Igrejas, é tomada uma decisão considerada como emanada do Espírito Santo: não é necessário que o pagão se submeta à lei judaica para ser cristão (cf. At 15, 5-11.28) A partir desse momento, a Igreja abre as suas portas e torna-se a casa onde todos podem entrar e sentir-se à vontade, conservando as próprias tradições e cultura, desde que não estejam em contraste com o Evangelho. 25. Os missionários, seguindo esta linha de ação, tiveram presente os anseios e as esperanças, as aflições e os sofrimentos, a cultura do povo, para lhe anunciar a salvação em Cristo. Os discursos de Listra e de Atenas (cf. At 14, 15-17; 17, 22-31) são considerados modelo para a evangelização dos pagãos: neles, Paulo "dialoga" com os valores culturais e religiosos dos diferentes povos. Aos habitantes da Licaónia, que praticavam uma religião cósmica, Paulo lembra experiências religiosas que se referiam ao cosmos; com os Gregos, discute sobre filosofia e cita os seus poetas (cf. At 17, 18.26-28). O Deus que vem revelar, já está presente nas suas vidas: de fato, foi Ele Quem os criou, e é Ele que misteriosamente conduz os povos e a história; no entanto, para reconhecerem o verdadeiro Deus, é necessário que abandonem os falsos deuses que eles próprios fabricaram, e se abram Àquele que Deus enviou para iluminar a sua ignorância e satisfazer os anseios dos seus corações (cf. At 17, 27-30). São discursos que oferecem exemplos de inculturação do Evangelho. Sob o impulso do Espírito, a fé cristã abre-se decididamente às nações pagãs, e o testemunho de Cristo expande-se em direção aos centros mais importantes do Mediterrâneo oriental, para chegar depois a Roma e ao extremo ocidente. É o Espírito que impele a ir sempre mais além, não só em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas, até se chegar a uma missão verdadeiramente universal. --- Para saber mais, estude na íntegra a Encíclica Redemptoris Missio, no site do Vaticano. | |
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