Sabro
Jornal do Agrupamento de Escolas de Sabrosa
Pesquisa

Entrevista a Afonso Cruz
Por Ilda Figueira (Professora), em 2015/05/31616 leram | 0 comentários | 185 gostam
No âmbito do encontro com escritores, que ocorreu na escola sede, no dia 7 de maio, os alunos do 5º A efetuaram uma entrevista a Afonso Cruz.
Aluno(s) – Bom dia, Sr. Afonso Cruz. Seja bem-vindo à Escola EB2,3/S Miguel Torga, em Sabrosa. Somos alunos do 2º ciclo e gostaríamos de colocar algumas questões sobre o escritor /ilustrador que já recebeu muitos prémios, entre outras atividades que o senhor desempenha.
1. Gosta de ir às escolas e de contactar com os estudantes?
Resposta – Gosto muito, pois quando tinha a vossa idade, estas iniciativas não ocorriam, não tendo conhecido nenhum escritor. Aliás, só conheci pessoalmente escritores, quando comecei a escrever. Quando vamos às escolas, aprendemos muito mais, são sempre experiências positivas. Vamos percebendo o que é que os estudantes gostam e o que não gostam de ler; vamos aprender, também aprender a escrever melhor. Sabem, quando escrevemos, ficamos muito embrenhados na história, é um ato solitário e ir às escolas é como ter o retorno da nossa escrita.
2. Como descobriu a sua paixão pela escrita?
Resposta – Não sei. Eu nunca tinha pensado em ser escritor. Mas sempre adorei ler, lia muito. É fundamental, para qualquer futura área profissional, ter uma boa “despensa” (= livros). São necessários muitos ingredientes para se fazer algo (é como na cozinha). Devemos encher a despensa com leituras, viagens, arte, idas ao teatro… Não têm só de ler para se ser escritor. Comecei a fazer filmes de animação porque estava a tirar o Curso de Belas Artes e o meu primeiro trabalho de ilustração remunerado tinha o objetivo de comprar uma moto. Fi-lo, ganhei dinheiro, mas nunca cheguei a comprar a mota, nem tenho a carta para a guiar! Eu comecei a escrever por acaso, porque me convidaram para trabalhar numa agência de publicidade. Os publicitários trabalham sempre em dupla, há o diretor criativo e o redator de publicidade, que era o meu caso, e como tinha muito tempo, enquanto o diretor criativo trabalhava, eu ia escrevendo.
3. Que idade tinha quando escreveu o primeiro livro?
Resposta – Publiquei o meu primeiro livro em outubro de 2008, tinha 36 anos, foi “A Carne de Deus — Aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites.”
4. De todas as obras que escreveu, qual é a sua favorita e porquê?
Resposta – Não tenho nenhuma obra favorita. É como uma mãe que não consegue escolher entre o filho de que mais ama. Quando me sento a escrever, tento sempre criar o melhor livro do mundo. Todos os livros que escrevi são o reflexo daquilo que eu era naquela determinada altura. Os livros que escrevo são diferentes uns dos outros, escrevo para os mais jovens e para os adultos. A verdade é que passo mais tempo com os livros que escrevo para adultos, porque são mais longos, mais complexos… Tenho uma relação diferente com os livros, mas não necessariamente hierárquica, no sentido de preferir um ou outro.
5. Qual foi o livro que lhe custou mais a escrever? Porquê?
Resposta – Eu gosto muito de escrever e o verbo “custar” custa-me a usá-lo! O tempo de lazer é praticamente igual ao tempo despendido a trabalhar, por isso nunca me custa escrever. Quando tenho tempo livre, estou a ler, ou a desenhar, logo é o que faço quando também estou a trabalhar. A parte mais aborrecida na literatura é a revisão (gralhas, erros…)
6. Que conselhos daria a uma criança ou jovem que sonha em vir a ser escritor?
Resposta – Não sei muito bem, depende da idade e de muitas outras coisas. Se não for bom, um escritor terá muita dificuldade em viver só da venda dos seus livros. Muitas vezes, os escritores têm outra profissão, são jornalistas, professores, advogados… Nas visitas que faço às escolas, a maioria dos rapazes quer ser futebolista, porque os miúdos pensam que vão ganhar muito dinheiro, mas não é nada fácil. Se pensarmos no Cristiano Ronaldo ou no Messi, o ordenado é apetitoso, mas é preciso ter muito talento, trabalhar muito, fazer muitos sacrifícios e ter sorte… Um jogador de futebol de uma equipa distrital não ganha muito… Há autores que ganham muito dinheiro, com os seus livros, mas o contrário também acontece, como já referi. O mais importante é tentar ser feliz, fazer-se o que se gosta, não é o dinheiro! Claro que o reconhecimento, o mérito literário são bons e a partilha, como nas restantes artes, é uma sensação positiva.

7. Sabemos que também é ilustrador. Qual foi a primeira obra que ilustrou?
Resposta – Não me lembro. Tenho dois filhos e não me lembro do primeiro livro que o meu filho mais velho leu. Ilustrei um manual escolar e fiz algumas ilustrações para revistas. Ilustrei o primeiro livro para crianças (“Livro com Cheiro a Baunilha” de Alice Vieira) em 2007. Foi por acaso, tinha enviado o meu C.V. para algumas editoras, e um dia recebi um e-mail da Texto Editores (na altura, agora chama-se Grupo Leya) a convidar-me para a ilustração desses livro. A partir daí, não parei mais. Era convidado porque, além de gostarem do meu trabalho, sempre cumpri os prazos de entrega dos trabalhos.
8. E sobre os filmes de animação, como surgiu esse trabalho?
Resposta –Como já tinha dito antes, ainda era estudante universitário quando fiz o meu primeiro trabalho de animação. Hoje em dia, faz-se trabalho de animação com vídeo, mas antes era como no cinema (o que continua a ser o melhor!). Para se ter um segundo de animação, são necessários vinte e cinco desenhos em vídeos e vinte e quatro desenhos em cinema. Um filme de animação dá muito trabalho, são necessárias resmas de papel e centenas de desenhos. Curiosamente, os animadores são pouco conhecidos, ao contrário dos realizadores…
9. A) Como se sentiu quando ganhou o primeiro Prémio por ter escrito um livro?
B) Quantos livros tinha publicado nessa altura?
Resposta – A) Senti-me muito bem! Os prémios são sempre gratificantes. Julguei inicialmente, quando ganhei o meu primeiro prémio que iria vender mais livros, ter mais leitores, mas não foi bem assim. O lema dos livreiros, há uns anos atrás, era “Se o teu livro não se vender em três meses, volta para a prateleira.”; hoje em dia, é o seguinte: “Se o teu livro não se vender numa semana, volta para a prateleira.” Sabem, em Portugal, são destacados, diariamente uma média de sessenta livros! É claro que um Prémio faz viver mais tempo o livro, além do reconhecimento, como já disse, é muito gratificante. Também há prémios que têm uma recompensa monetária, por exemplo o Prémio Leya, para livros inéditos, é de cem mil euros.
B) Na altura em que ganhei o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco com a “Enciclopédia da Estória Universal” (1º volume), em 2009, tinha dois livros publicados.
10. Onde se inspira para criar músicas, filmes de animação e livros?
Resposta – Tudo serve de inspiração. Costumam perguntar-me isso, porque vivo no campo, no Alentejo, mas não é só o campo que me inspira. Por vezes, são os pequenos pormenores do dia a dia que nos alertam para a escrita.

11. Como surgiu a banda Soaked Lamb (“borrego ensopado”)? E porquê esse nome?
Resposta – Na altura, era sócio de um bar. Para preparar uma festa, decidi compor duas ou três músicas para essa festa (que acabou por não acontecer). Guardei-as. Entretanto, um amigo meu – sonoplasta - sugeriu que gravássemos um disco e alinhei na ideia. Começámos a gravar, fui convidando mais pessoas para o grupo que veio a chamar-se Soaked Lamb.

12. O que pensa dos trabalhos que aqui apresentámos – cartazes, folhetos, música tocada com flautas?
Resposta – São todos muito bons, gostei muito. Foi simpático terem pesquisado, trabalhado para conhecer a minha obra.

13. Porquê fazer a sua própria cerveja?
Resposta – Comecei a fazer cerveja há vinte anos, em Lisboa. Gosto muito de compreender como as coisas são feitas – faço pão, queijo e cerveja. Um dia, li um livro de um monge beneditino que dizia que fazer cerveja era uma forma filosófica de compreender a Criação e a Natureza. Fui-me informando, pesquisando e fiz cerveja! O bom disto tudo é o facto dela ser artesanal.

14- O que pensa do Novo Acordo Ortográfico?
Resposta – Ainda hoje, escrevo com a antiga grafia, mas mais por preguiça. Não tenho nenhum conhecimento suficientemente elevado em Linguística para ter uma opinião válida. Esquecemo-nos que o português que escrevemos foi sempre evoluindo e sofrendo alterações. Eu penso que mudar é bom, a mudança não deve ser assustadora.

Alunos do 5º A


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