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Qual será o próximo país a pedir ajuda externa? II
Por Tânia Galeão (Professora), em 2013/05/22580 leram | 0 comentários | 98 gostam
Para ouvir outra opinião sobre o tema entrevistámos o Professor Mário Marques da Cruz, licenciado em Economia.
NLinhas- Na opinião do professor, quais foram os erros que levaram ao pedido de ajuda externa pelos cinco membros do euro grupo (Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Chipre)?

Prof. Mário Cruz- O desequilíbrio (para o lado do déficit) das contas públicas advém (acima de tudo em Portugal)
Já antes de 2008:
1. Da ideia dos decisores de que o cofre do estado é um poço “sem fundo”, que pagaria funcionalismo público supérfluo e ocioso, e carros…, e prédios sem utilidade…, e derrapagens gigantescas nos concursos públicos… e secretários… , e 250 deputados e regalias concernentes… , etc.. Etc…
2, da nunca combatida baixa produtividade, que se espelha nas empresas públicas em ruinosas contas de ganhos e perdas
3. Das obras de regime (centro cultural de belém, estádios de futebol, demasiadas auto-estradas, etc…) que não servem a nação mas sim intuitos eleitoralistas meramente;
4. Da evasão fiscal com as quebras nas receitas dos impostos de quem melhor poderia pagar;
5. Das baixas produtividades (logo produções) das empresas que mal ganham para os impostos;
6. Da falta de planeamento nas obras públicas (desperdícios gritantes), nas reformas exageradas dos militares,
 a partir de 2008, também:
As enormes perdas nas jogadas financeiras na bolsa (onde os apostadores (particulares, mas também as próprias instituições estatais julgavam ter a “galinha dos ovos de ouro”, e cuja falsa solidez desabou naquela data como um baralho de cartas – foram “apanhados” os bancos estatais e os próprios estados.
Como sabem, vendiam-se acções de futuro mais do que duvidos (lixo tóxico!...) Apenas para cobrar comissões, e “levar” percentagens. Isto empolou para valores irrealistas as empresas, os prédios, etc…. (é a chamada bolha – que tinha que rebentar mais tarde ou mais cedo, arrastando a economia que nela se baseava!)




NLinhas- O académico e investigador grego Yannis Varoufakis defende que a Grécia e Portugal "estariam melhor" caso não pertencessem à zona euro. No entanto, “ isto é diferente de dizer que devem sair da zona euro. Uma coisa é não entrar, outra é sair. A saída terá custos muito elevados e que não nos atingiriam caso não tivéssemos aderido à zona euro". (in SOL)
        - O professor concorda com estas afirmações? E em relação aos restantes países da Zona Euro que já pediram ajuda externa, acha que evitariam a divida caso não pertencessem ao euro?

Prof. Mário Cruz- Uma coisa é não entrar, outra é sair até eu percebo que são coisas diferentes. Tentámos “colar” às economias europeias entrando no euro. As vantagens, vêm até nos vossos manuais. Teria sido melhor não ter entrado? Na minha opinião continuaríamos a disfarçar a nossa falta de produtividade para as exportações na desvalorização de escudo (como sabem não temos hoje essa “arma”!). Portanto, foi aceite o desafio da entrada no pressuposto de que haveria investimentos na tecnologia e capital humano de forma a aumentarem os índices de produtividade e tornarem-nos um país competitivo (bons produtos a bons preços). Mas a produtividade nunca (fundos comunitários desviados e malbaratados) aumentou e o nosso tecido produtivo foi “estoirado” sucessivamente: sector primário (onde não fazíamos mal a ninguém) foi desmantelado até com a imposição de quotas de produção incentivando o “fim” do leite, dos cereais, etc… e sector secundário nomeadamente com a permissão de concorrência desleal pelos países emergentes (china, etc…) que atiraram os nossos preços e produtos tradicionais (têxteis…) para “fora” do mercado.
Porquê estar agora na eurolândia se as economias não têm paralelo? Talvez sairmos, mas … De todo!
Apostaríamos na diferença, no sol, finalmente no mar onde temos situação e pergaminhos….
Ah1 o escudo novo desvalorizaria 30% (em relação ao euro!...a nossa dívida aumentaria, portanto pela desvalorização, mas ficaríamos talvez nas condições ideais para a renegociar! Todas as outras soluções (continuarmos sujeitos aos ditames das poderosas Alemanha e seus iguais) não serão piores? Por exemplo: quando se determinam taxas de juro, é possível que as medias que servem a economia alemã sirvam também a nossa? Seria a quadratura do círculo mais uma vez! Saiamos!
Finalmente, acho que o euro não contribuiu para a dívida, mas sim as razões que aponto na resposta à vossa pergunta 1.

NLinhas- Christine Lagarde disse que os programas de ajuda financeira "não são só apenas medidas de austeridade" nem visam apenas as finanças públicas, mas salientou que "sem sólidas bases financeiras, tudo o resto é para esquecer". O objectivo é "permitir aos países saldarem as suas finanças públicas, para poderem criar riqueza e emprego". (in Diário de Notícias)
       - Serão as medidas de austeridade, tomadas pelos países da zona Euro, as certas? Se não, quais considera que deveriam ser adoptadas?


Prof. Mário Cruz- Então que são mais? Penso que a senhora, estará com toda a masculinidade que exibe, a dizer das virtudes da tal acção disciplinadora. Mas o certo é que o FMI tresanda de impostura e semeia inimigos por onde campeiam as suas acções. Justamente? Injustamente? Têm a palavra as taxas de juro, o meu magro subsídio, a fraca perspectiva de reforma e a fome e o desespero que avançam a passos largos e tomam conta de Portugal…
Quanto às sólidas bases, compreendo que tudo tem que estar “no são”, neste mundo capitalista que aceitamos. Exija-se consciência e responsabilidade aos governantes!
Quanto às medidas de austeridade, embora não tenha afinidades pessoais com qualquer partido de esquerda deste país, vejo-me forçado a concordar: as medidas estão erradas! os manuais dizem que quando a economia arrefece pela baixa de procura interna, é a vez das medidas de contra-ciclo como a facilitação do acesso ao crédito (pelo menos para o investimento), a criação de emprego, o aumento de velocidade de circulação da moeda, o domínio correcto das taxas de juro e da inflação, medidas fiscais condizentes com o propósito da reanimação da economia, etc…
Bem de sinal contrário são as medidas implementadas por esta espécie de governo que não respalda em nenhuma premissa técnica ou outra qualquer das soluções com que nos castiga definhando propositadamente a nossa economia. Nem a disseminação dos cortes cegos, injustos e perfeitamente desumanos com que premeia a sociedade portuguesa a começar pelos mais carenciados.
Finalmente: se vinham disciplinar, porque não pedem contas às ppps , e aos mais variados escândalos de subsídios em duplicado dos gestores, nem a estas apostas nos produtos financeiros até de organismos públicos e que só distorcem o funcionamento da economia premiando os especuladores e martirizando quem trabalha?

NLinhas- “As culpas não podem ser todas de gregos, cipriotas, portugueses e irlandeses. Aliás, até há países avessos à assistência financeira que mesmo assim mergulharam na recessão, como são os casos da Itália e da Espanha, mas também da Holanda e da França.” (in Diário de Noticias)
          -Tendo em conta a crise instalada nos países da Zona Euro, existem previsões de que haja mais países a pedir ajuda externa, o chamado efeito dominó. Na sua opinião, haverá mais algum país na eminência do pedido de ajuda?


Prof. Mário Cruz-Todos os países passarão um “mau bocado”. Se definham as procuras internas dos países, também enfraquecem as procuras externas….(exportações) e o efeito dominó é, de facto, a resultante lógica. As economias estão cada vez mais interdependentes, é notório! Mas a europa inteira tem acumulado factores nocivos ao desenvolvimento económico, e passo a citar:
As matérias-primas começam a ser transformadas nos próprios países produtores (a mobilidade crescente dos factores de produção “armou” esses países dos meios de produção para eles próprios venderem agora os produtos com o valor acrescentado nacional entrando em concorrência com os países antigamente transformadores “em exclusivo”
A europa não tem petróleo e os cartéis exportadores funcionam no sentido de valorizar o preço desse combustível tornando um preço outrora negligenciável num preço que hoje não é menos do que crítico, absolutamente decisivo
A europa perdeu o monopólio da produção das altas tecnologias pois a partir da década de 90 o investimento e em investigação e desenvolvimento sofreu uma baixa vertiginosa e crucial. Os outros países também dominam (quando não melhor em alguns sectores) as tecnologias de ponta e produzem bens condizentes
A europa perdeu o trunfo competitivo da tecnologia mas manteve os altos salários que a acompanhavam e regalias sociais, pelo que hoje os europeus não produzem bem e a bom preço:
As regalias sociais estenderam-se a imigrantes mal intencionados que vieram para a Europa apenas para que lhes tocasse o seu “quinhão” dando como contrapartida a doença (pelos subsídios), os filhos (também pelos subsídios), pesando demasiado nas contas públicas como por exemplo em França
A terciarização exagerada da Europa fez dela uma região pouco interessada na produção de bens (e por isso muito dependente de terceiros) e privilegiando os serviços (banca, seguros, cultura, turismo, espectáculos, administrações, etc) distorcendo a economia e desperdiçando factores produtivos


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