A manhã | |
Por Biblioteca António Nobre (Administrador do Jornal), em 2014/11/04 | 421 leram | 0 comentários | 96 gostam |
Mais um conto da professora Filomena Morais! | |
A sala estava cheia - 30 alunos (rapazes e raparigas) -; era ainda de manhã, mas havia uma certa agitação controlada no ar. O meu dia de trabalho estava a começar; não era bem um dia normal... Comecei, como habitualmente, por percorrer as filas de carteiras, promovendo o acelerar da organização da sala e da aula. Havia um fervilhar latente: olhares entusiasmados em corpos mais ou menos silenciosos e imóveis. - Está tudo bem? - perguntei, tentando desvendar o motivo daquele nervosismo camuflado. Responderam que sim, diria até que com alguma displicência, como se quisessem evidenciar a inutilidade da minha pergunta. Joana (a delegada de turma e, claramente, uma das miúdas mais populares da escola) levantou-se e disse: - 'Stora! Julgo que ouvi baterem à porta... - Não ouvi nada - respondi. - A Clara também ouviu - acrescentou a delegada com um sorriso intrigante. Para desvanecer as dúvidas, e tentando contribuir para o dissipar da atmosfera evidentemente anormal daquela manhã, dirigi-me à porta.Ainda hesitei, aguardando pelo repetir do bater que eu não ouvira, de qualquer forma, da primeira vez. Olhei para trás e não pude deixar de notar o silêncio, a tensão e, acima de tudo, os olhares todos postos em mim - ou na porta. Confesso que estava a achar a aula cada vez mais estranha - estaria a imaginar coisas? Inspirei, estiquei o braço em direção ao puxador, agarrei-o com a mão um pouco trémula e rodei-o devagar. Mal abri a porta, dei um salto com o susto que me provocou o barulho do arrastar de 30 cadeiras e um coro de 30 vozes que começou a cantar: - Parabéns a você, nesta data querida... À porta, um grupo de professores empunhava um enorme ramo de flores silvestres (as minhas preferidas). Há dias em que tudo acaba por valer a pena! | |
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