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Franz Kafka, Praga
Por Carlos Frazão (Professor), em 2015/12/02546 leram | 0 comentários | 203 gostam
Diálogo imaginário na cidade de Kafka com o próprio.

FRANZ KAFKA, PRAGA

Falamos sentados a uma mesa - no presente, o futuro é um verbo impronunciável, vago, breve, as suas sílabas - não no centro do percurso do mundo, mas a uma certa hora na periferia da verdade aqui: uma clareira aberta pela luz - diz-me a luz trágica da grande praça de Huss; afirmo, este lugar simbólico banhado entre a penumbra, a fenda do ar corroendo as arestas das sombras urbanas e os teatros sempre eternos. Repito - com as mesmas palavras os corpos e suas máscaras.

Não sei o tema que trouxe a minha escrita aqui - ver a voz na orla contingente das palavras - ver as palavras num cenário de fim de tarde de grandes concertos, enquanto passa o mundo pelas avenidas convictas da História, o seu peso e a melancolia a trote dos cavalos turísticos. Numa das capitais onde a Europa ia sucumbindo. Apanho um táxi para me lembrar do movimento em que a vida se dissolve pelos cristais enevoados da noite líquida. O motorista exprime que ali há um rio de escritores, também Kundera e a tua imagem perfeita da dissolução em Metamorfose, os teus Diários, o absurdo do Processo que eu queria compreender, o Castelo no ponto mais alto de uma escadaria íngreme.

Falamos sentados - no presente - a uma mesa de amanhã, quando o tema fluir sob outras vozes mais ou menos lúcidas: a escrita vaga e breve de todas as sílabas num guardanapo de versos sujos de cerveja. Outra Pilsener Urquell para celebrar ou para adiar a morte. Boa noite, Kafka. Digo, como o poeta, vou com as aves.

Praga/2015


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