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Jornal da Escola Secundária de Amora
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Teresa Rita Lopes
Por Alunos Mmnm (Aluno, ...), em 2014/02/14575 leram | 0 comentários | 137 gostam
No dia 30 de Janeiro, durante as Jornadas Pessoanas, a equipa do MediaLETRA teve o prazer de entrevistar a Prof.ª Teresa Rita Lopes, especialista em Fernando Pessoa.
MediaLETRA – Como e quando se começou a interessar por Fernando Pessoa?

Teresa Rita Lopes – Tinha uns treze anos e no meu liceu não havia muitos livros, como hoje. Não tinha à minha disposição tudo o que vocês têm, mas todos os que havia eu li e também os da biblioteca municipal, que eu frequentava. Eu encontrei na biblioteca do meu liceu dois livros de que eu gostei muito: o Álvaro de Campos do Fernando Pessoa e outro muito diferente, mas contemporâneo de Pessoa, Os Sonetos Completos de Florbela Espanca. Estes foram os meus autores de cabeceira. Depois conheci o Pessoa todo, claro, e desde então Álvaro de Campos passou a ser o meu preferido emparelhado com a Florbela Espanca e, desde então, passei a copiá-los à mão. Como disse há bocadinho, eu decorei muitas coisas.

ML - A professora é considerada uma das maiores especialistas em Fernando Pessoa. Como se sente em relação a isso?

TRL – (Risos) Do alto do meu metro e cinquenta e seis… Estou a brincar. Mas isto de ser maior ou menor não tem importância. De facto, para se conhecer qualquer coisa a sério temos que dedicar-lhe a nossa vida. Por exemplo, um especialista de um bicharoco ou de um macaco qualquer vai para a ilha onde existe ainda essa espécie e vive lá com eles às vezes a vida toda ou vinte anos. Nesta coisa das literaturas e das ciências humanas é a mesma coisa! E eu tenho levado de facto a minha vida a, não só a estudar Fernando Pessoa, pois eu tenho também a minha escrita pessoana, mas também porque o Pessoa, quando me comecei a interessar por ele, estava ainda em grande parte por descobrir, e mais uma razão para me dedicar de corpo e alma a essa tarefa e é isso que tenho feito desde então. Primeiro gostei do que li e percebi que o que li era uma pequena parte no que ele tinha escrito. Portanto, pus-me a tentar organizá-la porque estava tudo ainda nos manuscritos e, portanto, tenho contribuído para dar a conhecer os textos de Pessoa e organizá-los, porque ele escrevia em papelinhos soltos e escrevia vários livros ao mesmo tempo e há que refazer esses conjuntos e, por outro lado, escrever sobre esses papéis para os entender.

ML- Pode dizer-se que tem uma grande “paixão” pela escrita de Fernando Pessoa?

TRL- Ah, pode! Sem essa paixão não teria dedicado a minha vida ao rapaz.

ML- Qual dos heterónimos de Fernando Pessoa é o seu favorito? Porquê?

TRL- Álvaro de Campos. Bom, para já, ele também é múltiplo. Foi evoluindo na sua vida, porque o Pessoa previu que a obra de Álvaro de Campos fosse organizada para nos fazer assistir a essa evolução, desde a sua juventude, com o ímpeto das primeiras grandes odes (“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica” [Ode Triunfal]), até 1917, mais ou menos 4 anos, porque esse Álvaro de Campos tinha sido forjado, criado, quando era vivo o amigo de Pessoa, o Mário de Sá-Carneiro, com quem fez o Orfeu, aquela revista do nosso Modernismo, e que se suicidou em Paris, em 1916, e aí o Álvaro de Campos veio com os tais “ismos” que nessa altura esfuziavam na Europa. O Álvaro de Campos calou-se e só reapareceu em 1923, portanto 6 anos mais tarde gera outro, já não era esse pseudofuturista da Tabacaria; era o que eu gosto de chamar de engenheiro metafísico. E depois, há ainda aquele Álvaro de Campos dos últimos 5 anos da vida do Pessoa, diferente e muito mais inovador e moderno, utilizando uma linguagem aparentemente prosaica.

ML- Qual a sensação de falar em público para os alunos professores da ESA? Gostou das reações?

TRL- (Risos) Vocês são meus discípulos netos porque são alunos de ex-alunos meus, não se esqueçam disso. Portanto fiz isto com muito carinho.

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