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Zita Luís conversa com Maria Clementina dos Santos
Por Sérgio Santos (Leitor do Jornal), em 2017/09/281137 leram | 0 comentários | 121 gostam
Zita Luís conversa com Maria Clementina dos Santos, duas estimadas lamegalenses e leitoras que nos presentearam com um momento maravilhoso.
Maria Clementina dos Santos.
-Lamegalense há 80 anos.
-Mora no Brasil (São Paulo) desde os anos 60 mas uma parte do coração
 permanece ainda no Lamegal.

Zita Luís (ZL): Boa tarde, obrigada por ter aceite participar nesta iniciativa e partilhar connosco vários momentos. Para começar, pode falar-nos um pouco de si?
Maria Clementina (MC): Chamo-me Maria Clementina, tenho 80 anos. Trabalhei na roça (campo) dos seis aos dezoitos anos.
ZL: E que recordação tem desse tempo em que ia para o campo?
MC: Eu ia regar com a Tia Teresa. Eu pedia para ela deitar pouca água, porque eu queria virar o tornadoiro e não conseguia. Então queria que ela parasse. O tornadoiro é quando vai abrir o rego, para entrar a água para regar o feijão ou as batatas. Eu era pequena, não conseguia segurar. Então dizia: “Tia, pare de pôr água aí, porque assim não consigo virar o tornadoiro”. Recordo também que íamos guardar a água da presa. Íamos também ver quem é que ia cozer no forno…punham um sinal na pedra, com uma giesta e depois diziam assim: “Quem é que será que pôs o sinal?”. Se a pedra estivesse virada para cima, era alguém que morava na parte de cima do Lamegal, se a pedra estivesse no meio, era alguém que morava no centro do Lamegal, se estivesse para baixo, era alguém que morasse da parte de baixo da aldeia, perto da ribeira…Perguntávamos: Sabes quem pôs o sinal? Juntávamo-nos 3 ou 4 e fazíamos todas o pão. Antigamente, existiam muitos mendigos e então dormiam lá no forno e quando coziam o pão, davam um pedaço de pão aos mendigos.
ZL: E quais eram as vossas brincadeiras?
MC: Como na escola, a professora ensinava algumas cantigas, depois nós cantávamos e fazíamos danças de roda. Quando estávamos de férias, jogávamos o cântaro, as mecas (pedrinhas), ao anel. Não tínhamos brinquedos…fazíamos nós as bonecas de pano. Das aboborinhas pequeninas fazíamos cavalos ou burros para brincar, também: colocávamos dois paus à frente, dois atrás, eram as patas e uns pauzinhos ainda mais pequeninos, as orelhas. Depois colocávamos no chão e brincávamos com eles. Os rapazes jogavam a “chona”, o ferro…divertíamo-nos muito.
ZL: E depois dos 18 anos, para onde foi?
MC: Depois dos 18 anos, fui trabalhar no Sanatório Marítimo do Outão, em Setúbal. Depois fui para Lisboa, trabalhar no Hospital de Santa Maria e fiquei aí até aos 28 anos. A seguir, casei, e fui para o Brasil.
ZL: E está lá há quantos anos?
MC: 54 anos
ZL: Apesar de já ter voltado ao Lamegal, depois de ter ido para o Brasil, consegue comparar o Lamegal que encontrou este ano e aquele que deixou há tantos anos?
MC: Está muito diferente, mas para melhor. Está muito bonito. Adorei ver e estão de parabéns.
ZL: Gostaria de destacar algumas dessas diferenças?
MC: Está tudo mesmo muito diferente: as casas, o Lar, os caminhos… tudo para melhor, graças a Deus. Estou muito orgulhosa de como está agora o Lamegal.
ZL: Lembra-se o que existia no local onde atualmente é o Lar?
MC: Eram campos onde semeavam o centeio.
ZL: O que sentiu ao voltar no dia 15 de agosto, dia do associado? Que sentimentos e emoções vivenciou?
MC: Gostei muito. Adorei ver e dou os parabéns a todos os que trabalharam e fizeram tanto pelo Lamegal, que está quase irreconhecível. Já não conhecia quase ninguém, se não se apresentassem. Assim, como a mim, muitos também já não me deviam de conhecer mas adorei ver cada pessoa, matei saudades. O Lamegal para mim, está uma cidade!
ZL: Do que é que tem mais saudades?
MC: Sinto saudades da minha casa, apesar de ser bem pobrezinha e humilde, gostava muito dela. Gostava também muito dos meus avós, das tias, primos, pois brincávamos muito. No fundo, sinto saudades do tempo de criança…muitas mesmo!
ZL: O Lamegal ainda continua muito presente na sua vida?
MC: Continua e continuará…sempre.
ZL: Que expressões, palavras típicas do Lamegal é que se lembra?
MC: Lembro-me de anedotas e histórias que me contavam…ainda me rio muito quando as conto ou relembro. Eu gostava de ouvir os meus pais dizerem que o Lamegal naquela altura já estava bem melhor que no tempo deles… No tempo deles não tinha quase nada e eles achavam que estava a evoluir muito…Imaginem se eles tivessem a possibilidade de o ver agora…eles não conheciam mais o Lamegal.
Mas lembro do mandil, que é o avental, forcada, ancinho, as albardas, as trunfas, o picanço para tirar a água.
ZL: Sei que esteve no Museu Etnográfico…
MC: Gostei muito de visitar e sobretudo de ver o tear, a roca, o fuso… com a pente…as mantas…Adorei!
ZL: Se tivesse que escolher apenas uma palavra para definir o Lamegal, qual seria?
MC: Lindo! Lindo!
ZL: Muito obrigada pela entrevista!! Estou certa que muitos se revêem nas suas palavras e sentimentos. Até breve!
MC: De nada! Até breve!!


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