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PEQUENA MULHER COM GRANDE TRAJETÓRIA
Por Cristina Machado Severo (Professor), em 2020/11/02204 leram | 0 comentários | 63 gostam
Entrevista com a Secretária Municipal de Educação de Restinga Sêca, Antonina Garcia Cavalheiro
Em março, antes do isolamento social, a turma do nono ano, composta por Amanda Medianeira Torres, Andrey Brondani Machado, João Henrico da Silva, Laura Vitória Dalmolin Bertoldo, Luíza da Silva Cantarelli, Manuela Bilhão, Mateus Gabriel Böck, Matias Bolzan, Michaeli de Oliveira Lopes e Michele Fagundes da Silva, acompanhados pela professora de Língua Portuguesa, Cristina Severo, foi recebida com muito carinho pela equipe da Secretaria Municipal da Educação e pela Secretária de Educação, Antonina Garcia Cavalheiro, para uma entrevista sobre sua história de vida em Restinga Sêca.
Antonina iniciou a conversa dizendo aos estudantes que era uma grande honra e alegria recebê-los no prédio da administração municipal de Restinga Sêca. Ela declarou que via os jovens "empoderados" na comunidade escolar, realizando tal atividade, feliz em poder contribuir e responder a todas as perguntas. Durante toda a entrevista, carinhosamente, ela fez questão de compartilhar lições de vida a partir de sua própria experiência, percebendo-se seu anseio em poder transmitir o máximo possível de conhecimento aos estudantes naquela oportunidade. Na sequência, publicamos, em formato de texto coletivo, a transcrição da entrevista.
Jornal da DF- Qual seu nome completo? Antonina Garcia Cavalheiro.
Jornal da DF- Qual a sua data de nascimento? 27 de julho de 1954.
Jornal da DF- Qual o seu local de nascimento? Restinga Sêca. Nasci e me criei aqui, saí de Restinga somente para estudar. Depois, retornei.
Jornal da DF- Qual a sua atual profissão? Atual e única, professora; no exercício, fui professora de sala de aula, diretora, supervisora escolar, trabalhei em biblioteca, em diversas áreas da educação.
Jornal da DF- Você lembra de alguma passagem marcante da sua vida nesta cidade? Eu tenho muitas passagens marcantes, mas a que mais me marca e que eu sempre lembro envolve o início de minha caminhada na Educação. Como vocês podem ver, eu sou baixinha, pequenina, sempre fui, tanto que que, quando cheguei em idade escolar, meus pais não quiseram me matricular. Eles disseram: “É muito pequena, muito magrinha”. Imaginem o que eu fiz... Eu fui sozinha me matricular na escola. Quando cheguei lá, um “fio de luz” se matriculando, mas minha vontade de aprender a ler era tão grande, que não pude conter. Depois, minha mãe foi me buscar e acabou me matriculando...
Jornal da DF- Como era restinga naquele tempo? Era só uma rua, depois, ela foi crescendo aos poucos, tinha poucas casas e o comércio... Não lembro de muitas coisas... Tinha uma armazém, uma loja de tecidos, poucas coisas.

Jornal da DF- Qual foi sua primeira escola? Foi a Francisco Giuliani.
Jornal da DF- Você percebe semelhanças com a maneira como Restinga é hoje? Sim, Restinga é uma cidade que conserva suas características, ela se expande para os dois lados da avenida, cresce até a ponte. Restinga está se desenvolvendo bastante na região de São Miguel Novo e Recanto Maestro, tem um território enorme, então, se vocês forem fazer um passeio pela cidade, vão encontrar diversas localidades lindas, que vocês nem imaginam.
Jornal da DF- Há alguma brincadeira do passado que você lembre? Vocês sabem que as brincadeiras foram mudando com o tempo. Fala-se que antigamente as pessoas brincavam, hoje não se brinca mais. Eu já não digo isso, eu digo que, com o tempo, e com a evolução, as brincadeiras foram se modificando. Eu, por exemplo, brincava muito na escola de caçador, passa-passará, brincadeiras de roda, brincadeiras que existem até hoje, mas que foram se aperfeiçoando. A escola tinha um viés diferente do que tem hoje. Porque os professores eram autoridade mesmo, não se tinha a oportunidade de chegar tão perto do professor como se chega hoje, como a gente faz questão de que os professores sejam amigos e cheguem perto de seus alunos. Para vocês terem uma ideia, minha irmã mais velha foi minha professora, e, por isso, ainda tenho grande respeito por ela até hoje. Mas, ainda bem que os tempos mudam.
Jornal da DF- Como eram as pessoas? Iguais ao tempo de hoje, mas tinham diferentes usos e costumes. A sociedade não era tão liberal quanto hoje, no sentido de ir e vir, usar a roupa que quer, optar pelas músicas... Os pais tinham o controle maior sobre o que os filhos deveriam fazer ou a que lugares poderiam ir. Até com quem brincar, com qual brinquedo. Por exemplo, no meu tempo, claro que jogávamos futebol, mas não era atividade que fosse de menina. Antigamente, havia brincadeiras de menino e de menina. O jeito de ser de menino e o jeito de ser de menina. Hoje, vocês têm mais liberdade nesse viés da escolha do gênero.
Jornal da DF- Como eram os carros e o trânsito? Havia poucos carros, lembro, já da avenida asfaltada. Eu morava lá em cima, perto de onde moro hoje, perto da Corsan, então, lá era considerado para fora. Eu não tenho ideia do trânsito naquela época, mas sei que os principais meios dos anos 60, 70, eram carroça, carreta e os carros eram privilégio dos ricos.
Jornal da DF- Como eram as construções? Não havia muitas casas. Havia as casas dos ricos e pobres. As dos ricos eram de alvenaria, há algumas até hoje, muito bonitas, em frente à estação Férrea, casas antigas; no decorrer da avenida, inclusive, algumas já foram demolidas, colocadas outras construções mais modernas no lugar. O rico morava em casa de alvenaria e o pobre morava em casa de madeira.
Jornal da DF- Como era a vida das pessoas e seus valores? Como se divertiam? Bailes, reuniões dançantes, à tarde, passeios, carnaval era um tempo bem lindo, bem gostoso, mas as diversões eram tranquilas, sadias e familiares. Havia dois clubes e ainda tem até hoje, o Restinguense e o Seco, ia-se com a família nos jogos, na festa de aniversário do clube, as atividades eram bem familiares. Para sair, os pais só deixavam sair sabendo bem com quem. Não era como vocês que saem tranquilamente, a gente era bem acompanhada, acompanhada bem de perto.
Jornal da DF- Quais são suas expectativas para o futuro? Como vê Restinga Sêca daqui a 61 anos e como espera continuar contribuindo com a cidade? Eu espero que Restinga seja uma cidade bem maior, espero que vocês contribuam para a evolução de Restinga Sêca. Tenho muita esperança no futuro, na evolução, na consciência das pessoas. Por um mundo melhor. Espero que os jovens façam uma sociedade bem mais humana, porque, se vocês forem estudar história, se forem vivenciar os fatos, vocês verão que muitas coisas vão e voltam, e eu me lembro que nos anos 70, começaram a usar muita minissaia, era um horror os pais permitirem. Meu pai disse que não sabia porque estavam vendo tanta novidade nisso se tempos atrás já usavam. Então, a gente nota que os tempos vão e voltam e evoluem um pouco. Eu espero muita evolução, espero que haja muito cuidado com o planeta, com o meio ambiente, com as pessoas. Que haja consciência, pois, nos anos 80, 90, as pessoas só pensavam em adquirir, sem se importar com a humanidade, com o meio ambiente. Que a evolução venha, mas que venha com consciência. A vida é um espaço muito curtinho, que a gente vem para fazer o bem, mas que a gente pense nas pessoas. Quero que a evolução venha, mas de modo humanizado.

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