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Jornal Escolar do Cefet - Unidade Maria da Graça
Pesquisa

Aldeia Maracanã
Por Folha Cefet (Aluno, 2017), em 2019/12/10770 leram | 0 comentários | 101 gostam
Você sabia da existência de uma aldeia urbana no Maracanã? Venha ler esse artigo e conhecer mais sobre esse projeto incrível.
ALDEIA REXISTE: a existência e resistência de uma aldeia urbana no Maracanã

É de conhecimento geral que o povoamento do Brasil e a história de seu território como um todo iniciaram-se anteriormente à chegada dos portugueses. Contudo, as narrativas oficiais que perduram até hoje (difundidas por agentes socializadores relevantes, tais como a grande
mídia e o ensino escolar tradicional) foram construídas a partir de uma visão portuguesa da história.

Narrativas eurocêntricas e simplistas apresentam o indígena como uma figura exótica, não-civilizada, selvagem, pacífica ou até mesmo dócil, sem ao menos fazer distinção entre as etnias. Mitos criados numa tentativa de deslegitimar a luta dos povos originários destoam-se da realidade. E tais narrativas, ao serem reforçadas, afetam negativamente a imagem que a sociedade tem dos indígenas até os dias atuais.

Podemos apresentar o exemplo da Aldeia Maracanã – aldeia urbana multiétnica (ou pluriétnica) estabelecida no bairro do Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro – que tem sido constante alvo de disputas territoriais. De um lado temos o governo, aliado a empresários, que enxergam apenas o capital. Esse interesse é justificado pelo fato de que a aldeia está localizada ao lado do estádio Maracanã, importante atrativo turístico da cidade, e consequentemente envolve-se a ideia de alta especulação imobiliária por trás de todas as intenções governamentais e empresariais; o projeto de construção de um estacionamento, que foi proposto em 2013 – período próximo à Copa do Mundo – é um exemplo claro da busca pelo retorno monetário fácil e rápido. Entretanto, do outro lado temos indígenas e simpatizantes da causa que entendem a significância histórica, espiritual e simbólica por trás da terra ocupada e almejam transformar o espaço na primeira universidade indígena brasileira.

Primeiramente, é importante enfatizar que apesar da Aldeia Maracanã estar localizada ao lado do estádio Mário Filho, na Rua Mata Machado, bem próximo do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET-RJ, poucos discentes e docentes da instituição conhecem a aldeia e sua importância histórica.

Uma pesquisa realizada pelo projeto de extensão "Aldeia Maracanã: arte, história e integração" mostra que mesmo entre aqueles que em algum momento souberam da existência da aldeia, a grande maioria nunca chegou a efetuar uma visita para conhecê-la de fato.

Elementos que fazem parte da história dessa aldeia urbana já eram vistos desde a época pré-colonial, quando dezenas de aves maraka’nã (papagaio em tupi) habitavam o local. O prédio, por sua vez, foi construído somente no século XIX pelo Duque de Saxe - genro de Dom Pedro II - para servir como sua residência. Porém, após a sua morte, as terras foram destinadas para a criação do Sistema de Proteção ao Índio (SPI), em 1910, pelo Marechal Rondon.

Esse foi um dos primeiros ensaios de programas nacionais laicos de pesquisa e assistência aos povos indígenas, ainda que baseado na política de ‘transformar o índio num trabalhador nacional’ (Oliveira, 1985).
Em 1953, quando Darcy Ribeiro chefiava a seção de estudos do SPI, foi fundado o Museu do Índio; reconhecido por sua interação com outras instituições culturais e de ensino além da importância museográfica no Rio de Janeiro. Já em 1967, foi criada a FUNAI, Fundação Nacional do Índio, substituindo o SPI, para estudar e defender os direitos dos indígenas destinando-se a proteger a pessoa indígena, suas instituições, comunidades e garantir a posse permanente das terras indígenas. Além disso, em 1977, houve a mudança de sede do Museu do Índio para a Rua das Palmeiras em Botafogo, em um prédio tombado pelo IPHAN. Com essa mudança, o antigo prédio localizado no Maracanã foi abandonado. Já sofrendo com o maltrato do tempo e os maus cuidados, o prédio foi reocupado em 2006 por um grupo de aproximadamente cinquenta indígenas. A partir disso, em 2007 teve-se a primeira tentativa de retirada do grupo devido os jogos pan-americanos que ocorreriam no
mesmo ano. Ao final de 2008, o então secretário de Turismo, Esporte e Lazer, Eduardo Paes, do prefeito César Maia fez uma série declarações públicas que procuravam deslegitimar e marginalizar os movimentos da Aldeia Maracanã.

"Malandragem no Maracanã" – Eduardo Paes ao descrever a Aldeia Pluriétnica Maracanã durante uma entrevista ao programa Deles & Delas, na Rede Band de Televisão. Em 2013, a aldeia foi alvo de importantes disputas do capital. Queria-se construir o complexo Maracanã para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Então, o governo do Estado do Rio de Janeiro propôs a desocupação dos indígenas do local com a promessa de moradias em habitações do Programa “Minha Casa, Minha Vida”. Alguns indígenas aceitaram a oferta, porém outros optaram por continuar resistindo. Para os que permaneceram, a luta se tornava cada vez menos diplomática e mais violenta. No dia 16 de dezembro de 2013, houve um dos mais importantes conflitos por essa área. O governo utilizou-se de gás lacrimogêneo e cassetetes contra os apoiadores da aldeia, que se organizavam em um protesto popular (noticiada pelo Jornal G1.globo.com no dia 22/03/2013). E nesse mesmo evento, tem-se o relato do indígena José Guajajara que ficou conhecido por ter escalado uma árvore e permanecido nela por mais de 26 horas como um ato de resistência.
Após os referidos megaeventos, a aldeia foi reocupada e continua assim até hoje: um lugar de intensa troca cultural e de conhecimentos. Toda semana, encontros e rodas de conversas tomam palco nesta pequena aldeia atraindo espectadores de todo o Brasil e do mundo. Podemos citar como exemplo o III Congresso Intercultural de Resistência dos Povos Indígenas e Tradicionais do Maraka´nà (COIREM), ocorrido entre os dias 15 e 19 de novembro de 2018.

A história da Aldeia Maracanã, apesar de muito rica e inspiradora para os indígenas do país inteiro, não é contada pelos grandes meios de comunicação. O desconhecimento por boa parte da população, somado a discursos falaciosos de políticos com segundas intenções comprometem significativamente a compreensão da sociedade sobre esses grupos, problemas, desafios e demandas. Contudo, é possível desconstruir tais estereótipos por meio de vivências e aprendizados. Para isso, a Aldeia Maracanã se apresenta como um espaço muito importante para imersão em entendimentos sobre a cultura indígena no contexto urbano. Partindo sempre de uma ideia de troca mútua de conhecimentos e de igualdade. Tal como, não existe diferenciação, na língua tupi, entre as palavras "ensinar" e "aprender".

A universidade pluriétnica da aldeia maracanã tem todo esse papel de um espaço de troca de saberes, desmistificação de construções que foram feitas sobre a Aldeia desde a invasão portuguesa além do movimento de trazer visibilidade para o indígena e sua expressão no contexto urbano. Sendo assim, é primordial que a comunidade em seu entorno se disponha a conhecê-la para, em seguida, melhor entendê-la.

Estudantes: Tainá Dias, Maria Carolina Simões, Geovanna de Melo, Luiza Paulino

Orientadora: Aldilene Diniz (professora)

Referências bibliográficas:

bndigital.bn.gov.br

g1.globo.com/brasil/noticia/2013/03/tumulto-marca-retirada-de-indios-da-aldeia-maracana-2.html

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