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Feminismo e violência de gênero: sabe o que é?
Por Folha Cefet (Aluno, 2017), em 2019/05/13827 leram | 0 comentários | 128 gostam
Roda de conversa promovida no campus Maria da Graça, pelo coletivo Florescer, aborda o conceito de feminismo e o de violência de gênero. Confira e divulgue!
Nos dias 2 e 3 de maio, o coletivo feminista Florescer, do campus Maria da Graça, promoveu uma roda de conversa sobre o tema do feminismo. Contou com a participação de estudantes do Cefet, do C.E. Horácio Macedo e servidores do campus.

No primeiro dia (02 de maio), participaram da atividade a ex-estudante do campus Maria da Graça, atual estudante de Direito da UFRJ e membro do coletivo Olga Benário, Giovanna Almeida, e a doutoranda em Ciências Sociais da UFRJ, Letícia Ribeiro. A conversa foi mediada pela estudante do campus, Flora Rangel, membro do coletivo.

Giovanna iniciou sua fala buscando esclarecer aos presentes que o feminismo é um movimento social que surge em função da existência da desigualdade de gênero na sociedade, ou seja, existe o feminismo porque existe desigualdade entre os gêneros: dizer que há desigualdade entre os gêneros é fruto da constatação de que o gênero (masculino ou feminino) pode ser fonte de opressão ou privilégio.
Depois de explicar as bases do movimento feminista, a estudante fez um histórico sobre esse movimento social no Brasil. Demonstrando sólido conhecimento da obra de Angela Davis, Simone de Beauvoir e outros autores do campo da sociologia, Giovanna apresentou três diferentes etapas (ondas) em que o feminismo pode ser dividido em nosso país.

Em um primeiro momento, na década de 20, surge a pauta pelos direitos civis e políticos da mulher, direitos esse defendidos pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Essa organização foi fruto movimento pró-sufrágio feminino, desencadeado em âmbito universal a partir do final do século XIX.

Na segunda onda feminista, na década de 70, a luta das mulheres esteve voltada contra diferentes formas de violência e abuso cometidos pela ditadura militar no Brasil. As mulheres, então, engajaram-se na luta pela anistia.

Na terceira fase, a da micropolítica, que iniciou nos anos 90, a categoria mulher passou a ser concebida de modo menos hegemônico, isto é, a mulher passa a não ser mais concebida como categoria única: foi reconhecido que existem diferenças entre as mulheres, inclusive no que diz respeito a algumas de suas lutas. Como exemplo, a estudante explica que enquanto a mulher branca lutava pelo direito de poder ingressar no mundo do trabalho, a mulher negra já dedicava muito de seu tempo ao mundo do trabalho, tendo menos ou quase nenhum tempo para se dedicar à criação dos filhos.

Enfatizando a importância da formação de coletivos nas escolas, Giovanna chamou a atenção para o fato de que muitos dos problemas enfrentados cotidianamente pelas mulheres não são individuais, mas sim coletivos. Se são coletivos, como lembra, devem ser enfrentados de forma coletiva.

Por fim, a ex-aluna do campus Maria da Graça reforçou a ideia de que gênero, classe e raça se entrecruzam na análise social, tal como propõe Angela Davis em “Mulheres, raça e classe”: a desigualdade social aprofunda não somente a desigualdade racial, mas também a de gênero.

Podemos tirar uma fácil lição: se queremos uma sociedade menos racista e menos machista, devemos nos empenhar também em termos uma sociedade menos desigual do ponto de vista econômico, pois essas questões se entrecruzam no cotidiano.

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Letícia, estudante de Doutorado da UFRJ, destacou, em sua fala, a questão da violência de gênero.

Inicialmente, Letícia destacou que há quem, por desinformação, considere que a violência de gênero se restringe à agressão física. Isso é um equívoco: a violência de gênero não se dá, necessariamente de forma física (agressões físicas), mas também psicológica (controle, cerceamento, xingamentos, ridicularização, insulto etc.).

A doutoranda seguiu sua explanação levando o público a questionar o porquê de existir essa violência contra a mulher. A resposta está relacionada, segundo Letícia, à naturalização do controle sobre a mulher e da naturalização da própria violência, ou seja, do fato de muitas pessoas ainda acreditarem que o homem agredir a sua namorada, companheira/esposa é algo “natural”.

Conforme ressaltou, a violência de gênero está na pauta do movimento feminista desde a década de 70. De lá pra cá, algumas conquistas: a Lei nº 11.340/2006 Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio sancionadas pelo governo, fruto da mobilização social.

Por último, a pesquisadora enfatizou que a questão do gênero deve levar em consideração também os homens uma vez que os mesmos também sofrem pela imposição de um determinado modelo de socialização masculina, ou seja, de certos padrões que são impostos a todos os homens, indistintamente, e que têm consequências diretas para homens e mulheres.
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No segundo dia (03 de maio), participaram da roda de conversa a aluna do curso de Segurança do Trabalho do campus Maria da Graça e membro do coletivo Florescer, Flora Rangel, e a professora de história do campus Maria da Graça, Letícia Ferreira.

Flora abriu a roda de conversa comentando sobre a importância da sororidade entre as mulheres, isto é, a importância da irmandade e do companheirismo entre as mulheres. Para Flora, as mulheres devem sempre procurar se unir em qualquer situação. Assim, juntas, podem ajudar cada vez mais na caminhada em busca da igualdade entre os gêneros.

Ressaltou que sororidade não está relacionado necessariamente a ser amiga ou concordar com todos os pensamentos de outra mulher, mas sim de ser companheira e ajudar outra mulher quando preciso. Um exemplo de como colocar em prática a sororidade, citado por Flora, diz respeito ao padrão de beleza existente na sociedade: quando estiver em uma roda de amigos e vir algum deles zombando de uma foto de outra mulher por não se enquadrar no padrão de beleza, não zombe junto, se coloque contrária à “zoação” e, ainda, elogie aquela foto. Além de ajudar a derrubar padrões de beleza, podemos ajudar na autoestima daquela mulher.

A integrante do coletivo Florescer deixou claro, na conversa, que algumas atitudes pessoais podem ser indiferentes para quem está agindo, porém podem causar fortes impactos na vida do outro.

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A professora Letícia iniciou sua fala colocando em pauta a questão da competição entre as mulheres. Questionou a razão de a sociedade sempre tentar promover a competição entre elas. Conforme pontuou, não há necessidade alguma de uma mulher ter que ser mais bonita, mais magra (ou seja lá o que for) que outra mulher: todas podem se sentir belas, sem ter que diminuir outras mulheres. Destacou que é uma condição que só é imposta às mulheres. Lembrou de sua adolescência, destacando que sempre foi uma menina que gostava de brincar e conversar com meninos, porque, com eles, ela era livre para fazer coisas que, devido à desigualdade de gênero, não poderia fazer com meninas (correr, se sujar, brincar com bola etc.).

Letícia destacou que esse tipo de criação, que restringe atividades de acordo com o gênero, ensina às meninas a serem frágeis, sensíveis, donas de casa e cuidadoras dos filhos quando mais velhas; aos meninos, ensina a serem mais "sérios", menos sensíveis: os que devem trabalhar e serem responsáveis pelo sustento da casa. Ainda propôs aos presentes que se perguntassem sempre “o que eu ganho com isso?”, quando criticamos alguém, quando diminuímos alguém ou quando colocamos alguém “para baixo”.

- "O que eu ganho com isso"?

A professora ressaltou que essa prática de autoquestionamento nos ajuda a nos colocarmos no lugar do outro e a repensar atitudes que podem ofender alguém e devastar a autoestima da pessoa, seja homem ou mulher.

No final da roda de conversa, as palestrantes convidaram o público feminino presente a escrever frases de apoio às mulheres em situações de tristeza, de baixa autoestima ou de desânimo. Com o objetivo de animar, apoiar e fazer com que as meninas do campus se sintam bem, esses cartazes foram expostos por toda a unidade Maria da Graça.

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