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A Experiência Estética do Atleta
Por Rebeca Coelho (Professora), em 2015/05/31754 leram | 0 comentários | 150 gostam
Estreando a seção "palavra de especialista", a professora Rebeca (E.F.) explica a estética do corpo de um atleta.
“O desporto é um palco onde entra em cena a representação do corpo, das suas possibilidades e limites, do diálogo e relação com a nossa natureza interior e exterior, com a vida e o mundo.” (BENTO, 2004, p.66)
Na esteira de Bento, entendemos que o desporto é um palco de atuação que permite a exibição dos atletas, tanto do ponto de vista físico como subjetivo, espaço de movimento que permite ao ser humano vivenciar pensamentos, sentimentos e sensações. O corpo do desporto cumpre-se nos corpos dos atletas, que se podem confrontar entre equipas, entre vários adversários numa competição individual ou mesmo num duelo entre dois oponentes. Estes atletas fazem parte de um jogo, no sentido literal, e podem nos remeter para uma imagem de liberdade, do homem na interação de “todas” as suas virtualidades.
Para Caillois (1990) o jogo é uma fantasia agradável, que designa não apenas uma atividade específica, mas também a totalidade das imagens, símbolos ou instrumentos necessários à sua prática, portanto é um conjunto complexo. O autor afirma que não o jogo em si, mas as disposições psicológicas que ele traduz e fomenta podem, efectivamente, construir importantes fatores civilizacionais.
A partir deste contexto e das discussões científicas da atualidade, é possível afirmar que o desporto civiliza o homem na sua totalidade bio-psico-social. Na busca dessa totalidade, o atleta encontra a honestidade e o “jogo limpo”, o espírito de luta, o companheirismo, a habilidade técnica, a saúde e forma física, a imagem pública e o poder social, assim como permite vivenciar o desejo de conquista, a realização pessoal, a expressão de sentimentos, entre outros.
O jogo desportivo apresenta-se também no prazer de vencer o adversário, onde o homem audaz é ação, característica do “Homem” na condição de “Homem”, tendo esta característica o poder de fazer com que o atleta se integre na sua área de atuação, realize fantasias, vivencie experiências lúdicas e, muitas vezes, situações arriscadas. Deste modo, o desporto também pode colocar o atleta diante de situações inusitadas e surpreendentes, seja nos desportos tradicionais ou, com maior frequência e intensidade, nos desportos de aventura e de combate.
Nos desportos de combate, os atletas vivenciam uma experiência arriscada, de agressividade, sofrimento e limite. Segundo Gumbrecht (2007), a principal atração do boxe, por exemplo, é a proximidade do lutador com a morte. Nos desportos de aventura, como o surfe por exemplo, de acordo com Coelho (2004), o encontro corporal do surfista com a sua prancha e os elementos da natureza leva-nos a pensar numa ruptura com o mundo social, e na perspectiva do encontro com algo diferente, excitante e novo, como uma onda perfeita, gigantesca e ao mesmo tempo muito desejada.
Bento (no prelo, 2010) afirma que os seres humanos arriscam pela vitória, ultrapassando muitas vezes os seus próprios limites. Mas esta vitória pode ter dois significados. Por um lado a vitória pode ser entendida no sentido triunfar sobre um outro ser humano ou uma equipa, que pode acontecer através de um jogo maravilhoso, fantástico, que tanto pode ser belo, como ruim e mesmo feio. Por outro lado existe a vitória na busca de um momento único, como uma onda perfeita, um golpe de boxe certeiro, ou mesmo um golo de placa no ângulo após fintar três adversários, que permite ao indivíduo vivenciar uma experiência sensível (que envolve os sentimentos), lúdica, afetiva, ou seja, uma experiência estética, e que por vezes não é suficiente para vencer um campeonato de surfe, uma luta de boxe ou uma partida de futebol.
Desta forma, o objetivo da reflexão que aqui se desenvolve baseia-se no pressuposto de que o desporto possibilita que o praticante no seu palco de atuação, na interação com os elementos internos do jogo e o público que o rodeia, encontre um espaço favorável à expressão dos seus sentimentos, acedendo à experiência estética.

Referências:
Bento, J. (2004). Desporto: Discurso e Substância. Porto: Campo das Letras.
Bento, J. (2010). Formação Pedagógica. Disciplina ministrada no Programa Doutoral em Ciências do Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Caillois, R. (1990). Os Jogos e os Homens. Lisboa: Edições Cotovia.
Coelho, R. (2004). A Estética do surf . Os desafios da renovação: 15 anos de congresso, Anais do Congresso de Ciências do Desporto e de Educação Física dos Países de Língua Portuguesa, p. 117.
Gumbrecht, H. U. (2007). Elogia da beleza atlética. São Paulo: Companhia das Letras.

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