"GASTA-SE O TEMPO, MAS NÃO A VIDA" | |
Por Cristina Ferreira (Professora), em 2019/10/21 | 210 leram | ![]() ![]() |
O Jornal do Agrupamento agradece a colaboração da comunidade educativa, o envolvimento, a partilha e a sensibilidade poética. Louvamos a ousadia da interpelação e reflexão da Professora Ana Paula Almeida: «Gasta-se o tempo, mas não a vida!» | |
![]() Hoje, o tempo acordou-me, apressado, não te vi… Esqueci a cor dos teus olhos e tudo em ti… Passou mais um dia, horas, minutos, segundos que pareceram semanas meses e anos e não te vivi… Acordo um novo dia, estendo-te a mão e estás longe no tempo, mais uma vez, no tempo do tempo de uma vida inteira de pedaços de tempo. Quanto tempo demora uma vida inteira? Quanta vida tem todo o tempo? Quantas lágrimas cabem na vida? Quantas vidas cabem nas lágrimas do tempo? Só, numa prece, gasto o tempo em bolas de sabão que se esfumam em perenes partículas como estrelas cadentes, ilusão óptica, momentos efémeros reluzentes. O nosso tempo dentro do grande tempo, a nossa vida dentro da grande vida são ampulhetas, livres borboletas que voarão outros tempos e outras vidas até ao fim de todo o tempo e de toda a vida. O teu tempo não é o meu tempo e o meu tempo não é o teu tempo, a minha vida é minha e a tua é tua. Tenho esperado tanto tempo pelo tempo quente de outrora que não volta e se aloja nas faúlhas das lembranças, rascunho inacabado, tempo que fui e não mais flui, da mesma maneira. Gasto o tempo num calendário da vida de um dromedário perdido em setas de momentos convencionais, revestido de armadura dura, fantoche despojado de sensações, desejos e emoções. E pergunta a vida ao tempo: Que horas são? Este responde: são horas de gastares mais tempo com a tua vida que comigo, rasga o calendário, atira o relógio pela janela afora e vive a felicidade agora! Professora Paula Almeida | |
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