O ARAUTO DO VALE
Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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....Era uma vez.....(Contos e memórias)
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2023/06/28446 leram | 0 comentários | 46 gostam
Era uma tarefa prazerosa recolher histórias que, de outra maneira, se perderiam
ERA UMA VEZ.... As histórias e mitos do nosso povo que recolhíamos nas férias e transformávamos e redações para a aula de Literatura do Padre Alfredo... O ambiente era a Ilha da Madeira, com suas particularidades sociais.
...."O Tesouro"
Um lenhador de profissão dirigiu-se à serra para cortar um pinheiro afim de conseguir lenha para o inverno que se avizinhava. e, qual foi a sua admiração ao ver que, na raiz da árvore havia encontrado um saco de moedas de ouro.
Alguém o teria deixado ali e o pinheiro nascido aleatoriamente como sucede na Ilha, deveria ter feito a pessoa perder o rasto e a localização do tesouro. O lenhador era muito temente a Deus e, com muitas dúvidas na mente, a primeira coisa que pensou fazer, foi a de dirigir-se ao vigário para que lhe desse um conselho sobre como proceder....
O vigário não queria acreditar naquela bênção à frente dos seu olhos! Pensou numa maneira especial para tirar partido do achado (as finanças não estavam grande coisa...) e propôs ao lenhador o seguinte: vá pela Ilha a perguntar quem tinha perdido o tesouro... Se encontrar, devolva o saco de moedas, e ficará em paz com sua consciência.... Se não encontrar o dono, traga aqui e fazemos o seguinte: dividimos em três partes... Uma para a caixa das almas, outra para os pobres e a terceira parte é sua, já que encontrou o tesouro....
Dito e feito, lá vai o homem pelas estradas da Ilha a perguntar pelo legítimo dono do saco de moedas.... Claro que não encontrou e o padre sabia disso muito bem!
Lá ia o homem falando em voz alta..."Quem perdeu o que eu achei!" e a seguir bem baixinho "um saquinho dinheiro..." As pessoas achavam que era um "andante" louco dos muitos que perambulavam em época de fome e carestia....
Voltou ao vigário e disse que não havia encontrado o dono do saco de moedas....
"Então já sabe, disse o padre, vamos cumprir o nosso trato... "
Ah, sr padre.... se uma parte é dos pobres, eu também sou pobre, então é "meu!" se outra parte é das almas, alma tenho eu.... e esta parte já é minha, então é tudo meu!.....
O vigário pensando que ia encontrar um lenhador submisso, não teve como retrucar..... e lá foi o bom homem com a sua fortuna para casa...
Lembro-mé perfeitamente da risada do Padre Alfredo ao ler este "conto" colhido do saber popular que, na sua mensagem subliminar, mostra que o vilão às vezes consegue dar a volta à esperteza enganadora dos que se julgam mais letrados....
Quando voltei à Madeira, encontrei o Padre Alfredo na rua Fernão de Ornelas e ele me disse com toda a sua bonomia: Olhe, meu caro, (era característico dele...) tomei a liberdade de colocar no meu livro "Era uma vez na Madeira..." duas redações suas.....
Só o fazia com a redação anual de algum aluno que ele escolhesse..... durante quarenta "gerações" daqueles a quem havia dado aula.... E olhem que tínhamos bons escritores naqueles tempos... Fico muito grato e reverencio a sua memória.... A memória de um culto e santo sacerdote que passou pela minha vida.....



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