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Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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DEMAGOGIA (NÃO É PRECISO!)
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2022/11/1368 leram | 0 comentários | 40 gostam
AS ESPERANÇAS DEMOCRÁTICAS VÃO SE AFUNILANDO!
RENATO GOMES CARVALHO
Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses
O PARADOXO DO POPULISMO (E DA DEMAGOGIA)
Opinião | 10/11/2022 08:00
Temos assistido nos últimos anos à ascensão de movimentos e de personalidades que se caracterizam por um discurso demagógico, populista e extremista, o qual tem contribuído para um clima social de tribalismo e frequentemente de ódio, evidenciado por exemplo nas eleições intercalares nos Estados Unidos desta semana. Se esses fenómenos são a causa dos problemas ou então um sintoma de problemas que já existem, ou simultaneamente ambos, ultrapassa a esfera desta reflexão. Mas em períodos de crise e incerteza, trata-se de fenómenos ainda mais agudizados e com maior potencial destrutivo.

É certo que muitas pessoas pensam e concordam com a mensagem que muitas figuras propalam, isto é, quando pensamos “mas quem é que consegue apoiar esta ou aquela personagem, este ou aquele movimento?”, temos de considerar que efetivamente há pessoas que acreditam e pensam assim. Mas não serão todas.

Na verdade, pessoas e comunidades com medo e que enfrentam um mundo incerto e demasiado desigual, muitas das quais sentindo-se excluídas dos processos de globalização e digitalização, ou outras que procuram manter uma realidade que já não existe, e num clima de tribalismo potenciado pelas redes sociais, estão particularmente vulneráveis a mensagens simplificadas sobre o mundo, com certezas morais, bodes expiatórios e que remetem para instintos mais agressivos. Pessoas zangadas, com medo ou que têm menor tolerância à incerteza têm maior susceptibilidade face aquele tipo de abordagens.

E é aqui que radica, a nosso ver, o paradoxo do extremismo, do populismo e da demagogia, nos seus diferentes graus de intensidade. Tais abordagens, pela sua natureza, conseguem crescer aproveitando-se do clima social de frustração, de incerteza, do que custa a vida, sobretudo numa realidade comunicacional de chamada de atenção, em que vende mais quem mais captar a atenção e ativar emoções. No entanto, as soluções que apresentam não só não são viáveis, como vêm alimentar ainda mais o clima social que esteve na origem do seu crescimento.

A ineficácia da gestão populista ou extremista, como se tem demonstrado em vários países e perante problemas de fundo, em que são convocadas capacidades construtivas, de união e eficiência (como é o caso da pandemia), leva à deterioração das situações originais e a mais problemas, o que por sua vez deteriora o clima social, aumenta as divisões sociais e a conflitualidade tribal, reforçando assim os motivos que estiveram na base da sua eleição. Este será um dos motivos pelos quais se costuma dizer que depois de serem eleitas determinadas figuras, dificilmente nos voltamos a “livrar” delas.

Se este será ou não um movimento perpétuo dependerá de muitos fatores, uns mais controláveis do que outros. Mas certamente que um desses fatores envolve o comportamento dos agentes que integram as formações ou os movimentos moderados e institucionais, bem como na sua atenção e resposta aos problemas que estão na base das preocupações da comunidade.


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