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Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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Boas Festas
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2020/12/22152 leram | 0 comentários | 34 gostam
Prosa acutilante e poderosa

OPINIÃO & CRÓNICAS
Alberto João Jardim
ALBERTO JOÃO JARDIM
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ESCREVER NATAL
Opinião | 21/12/2020 08:00
Há muitos anos, deparado com tudo e tanto que magistralmente se disse e diz da Quadra, lembro-me de ter posto em letra de imprensa: "não sei escrever sobre o Natal".

Só que pela vida fora e muito por causa da educação e dos costumes familiares na meninice, o Natal despertou-me sempre um fascínio afectivo que a idade nunca arrefeceu.

Também por causa da Cultura Madeirense. Ao contrário de na maior parte dos territórios de civilização cristã, entre nós o Natal tem uma vivência de maior peso do que a Páscoa da Ressurreição.

Quer uma insularidade durante séculos de comunicações quase nulas com o exterior, quer os constrangimentos endógenos a estas ilhas, quer a educação e a culturalização cristãs, tudo isto fez com que a Esperança ficasse alicerce importante no sobreviver do Povo Madeirense.

Ter Esperança, não se trata de constatar um axioma ou um produto cientificamente comprovado.

Ter Esperança é um acto de Liberdade, um acto de vontade individual, também um Direito.

Ter Esperança é uma atitude livre com o objectivo de Felicidade. Apontado a algo que não é ou não está no presente, mas que se tem como acessível, atingível. É um desejo que inclusive pressupõe confiança e até uma possível afectividade.

Quem conhece minimamente a História do Povo Madeirense, percebe o porquê da maneira como, no Natal, renova a Esperança. Ao ponto de Lhe chamar "a Festa", concretização de Alegria, numa quadro de Fé.

Desde os primeiros Cristãos, Jesus - sim, o Menino Jesus nado nas palhinhas de Belém - está ligado à Esperança. Legado do Antigo Testamento, sobre um Messias que restabeleceria o reino do Bem.

Na Antiguidade Cristã, desde o imperador Aureliano, o solstício de inverno passa a ser estabelecido como data oficial do nascimento de Jesus, pois é historicamente desconhecido o dia do Seu nascimento efectivo. Sucede assim, para substituir a festa pagã do "nascimento do sol" e, narram os Documentos, "por entender o Natal de Cristo como verdadeiro sol de justiça".

Pode se ler o Natal Madeirense como um reactivar da Esperança no reino do Bem. Contraposto às dificuldades históricas, cujos lenitivos foram a Fé, a Cultura e a Educação cristãs, a força de vontade e a capacidade de Trabalho, sempre nossas essências desde os primeiros Povoadores.

A Fé, bem como a Sua permanência no tempo, nada têm de irracional.

É claríssimo os Autores dizerem Cristo, o Menino Jesus do nosso Natal, "o maior dos viventes", referindo-se-Lhe Goethe "a Humanidade não conservou recordação de nenhum homem que, mesmo de longe, se assemelhe a Cristo".

Acresce que a Felicidade de cada ser humano, dos crentes aos ateus, passa por ganhar alguma segurança pessoal no reconhecimento de duas realidades que sobrevivem sempre e que empurram a Civilização para diante.

Uma realidade, é todos, dos crentes aos ateus, pelo menos todos "os Homens de Boa Vontade", procurarem, desejarem o Bem Absoluto, o qual, para muitos de nós, é Deus.

Logo, a incontestável existência da Esperança.

A outra realidade é a convicção de todos, de que ninguém tem a explicação para a totalidade daquilo que a nossa constatação atinge.

Tudo isto é racional.

Ora, este Menino Jesus apresenta-se à História e à Humanidade como um diálogo entre o Homem e Deus. Único, porque o consubstanciado apenas numa só Pessoa. Independentemente do que se entenda por "Deus".

Assim, pelo menos, mas racionalmente, temos um Mistério. Algo que, pela sua própria natureza, nas nossas vidas estamos impedidos de percebê-lo por completo, apesar de todo o Conhecimento, de toda a Ciência, ou de mesmo quando os ensinamentos são teologicamente apresentados como Revelação.

Estamos impedidos de perceber, porque esse algo está "envolto em certa obscuridade".

Porém, apesar da característica do Mistério ser a Incompreensibilidade, o Natal chama-nos todos os anos para este Jesus, talvez com mais ênfase que noutros momentos da vida. Quer através do próprio reconhecimento da inacessibilidade, quer da participação em actos de oração ou litúrgicos, quer mesmo no ganhar confiança pessoal face ao dia-a-dia.

Vivendo Festa, com ou por causa do Jesus também Menino.

A Este atribuindo ou sacando uma acção redentora, o que é Fé.

Fé que assenta na Razão, é racionalidade na medida que um exercício, em Liberdade, do Direito à Esperança na Felicidade e no Bem.

Fé que é o estabelecimento de vontade própria para o acto intelectual de procurar descodificar o Mistério da dualidade do Homem e do divino, apresentado simultaneamente neste mesmo Menino Jesus.

Inclusive, exercício cultural e de busca por parte dos Povos com a Graça da Esperança, da Liberdade e da Racionalidade.

De facto, parece complicado tentar escrever sobre o Natal.

Mas não é


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