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Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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TEMPOS NOVOS, VELHOS TEMPOS!
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2020/04/10204 leram | 0 comentários | 50 gostam
A HUMANIDADE NUNCA APRENDE....

D. TEODORO DE FARIA
Bispo Emérito
ANEMIA CULTURAL E ESPIRITUAL
Opinião | 23/02/2020 07:00
A anemia é uma doença que afeta o corpo humano quando não dispõe de glóbulos vermelhos necessários para o normal funcionamento, muito perigosa para a saúde e a vida, aplicada ao plano cultural, é usada para falar de formas de arrogância e superficialidade que aparecem na nossa cultura, quando a sua verdadeira identidade é o serviço do bem comum. A Igreja, com o seu tradicional empenho pelos bens culturais e espirituais, necessários à vida, não encontra aceitação em certos sectores da opinião pública, devido aos seus preconceitos e desconhecendo a sua missão, rejeita-a ou escarnece-a.

Consultando, porém, os mais influentes pensadores atuais, filósofos, professores, poetas, alguns mesmo descrentes, o seu pensamento é amargo para os nossos tempos. O filósofo italiano Massimo Cacciari escreve que estamos vivendo” uma mudança de época”, após a queda do muro de Berlim e o fim do império comunista, as grandes culturas europeias- a social democrática, a cristã popular e a liberal, estão ligadas aos seus valores e juízos, que a situação atual chama preconceitos, surgindo então o grande problema educativo da formação da classe dirigente. Hoje é o tempo da anemia cultural! Este filósofo descrente, vê na obra da Igreja o motor da Europa renovada, próprio do cristianismo, de uma cristandade não clerical conservadora, mas serenamente aberta aos sinais dos tempos sem extremismos, “mas capaz de vivificar aquela cultura que não propõe formas radicais”.

Um outro pensador, Goffredo Fofi, fala de “ópio cultural e dimensão narcisista” como de um facto típico da atual condição humana: “Eu penso, eu escrevo, eu recito, eu filmo, eu desenho, eu canto, eu faço um blog. Eis a Droga, cuja difusão está ao máximo, basta-me isto para convencer-me de ser alguém, de existir enquanto Eu.” O fenómeno da anemia cultural é uma enorme crise espiritual, escreve Carlo Ossola, que após a última guerra mundial vai cedendo o lugar a grupos não representativos e sem responsabilidade em relação aos cidadãos, que mostram o declínio da participação política popular e da grande influência das empresas multinacionais unidas com os governos nacionais. Esta situação leva a pensar num próximo triunfo da “sociedade líquida”, da tecnologia, do consumismo “on line” e de um totalitarismo ao contrário de esvaziamento da política democrática.

Neste momento somos pressionados pelo tema da eutanásia, num país que foi o primeiro na Europa a terminar com a pena de morte e, agora, não quer perder o lugar entre os sete primeiros no mundo para introduzi-la na sua casa. “Oh res, Oh mores”, diria Cícero, abismado com tanto poder que foi dado a um grupo de deputados sobre a vida e a morte dos seus concidadãos quando na propaganda para as eleições não tocou neste assunto! É a embriaguez da democracia direta, temem a dessacralização do poder político. Onde está a piedade perante o sofrimento horrível dos pacientes? A médica psiquiatra M. Neto, alerta: “O debate sobre a despenalização da eutanásia não responde a nenhum “debate social” ou preocupação dos profissionais, visa uma “agenda política”. Não há dinheiro! Na realidade, como acena o bispo Dom Nuno, é mais barato matar do que encontrar meios para salvar, a eutanásia é uma licença para matar! Não esqueçamos que “A vida dos fracos vale tanto como a dos fortes; A vida dos pobres vale o mesmo que a vida dos poderosos; A vida dos doentes tem valor idêntico à vida dos saudáveis”. A vida é um dom de Deus, não nos pertence. O Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa fala de uma “mentalidade suicida” que atravessa a nossa época, o número de suicídios em nossos dias é tão grande, que, felizmente, o seu número não aparece nos jornais, para não contaminar os que estão perplexos. Os cuidados paliativos, a presença amiga junto dos que sofrem, o contacto com a criação, ajuda a viver enquanto o défice relacional mata.

A cultura atual gera promessas ilusórias que não dizem respeito à felicidade, mas ao divertimento e ao passatempo, perdeu o sentido clássico da cultura, torna-se síntese de comunicação, informação e espetáculo, instrumento de domínio, forma de ser aceite na vida quotidiana para ser aceite e fazer publicidade.

O filósofo Heidegger, um dos mais influentes do século XX, já preveniu ao denunciar a anemia da nossa época: “Nunca como hoje o homem teve tantos conhecimentos sobre o homem e, nunca como hoje se sabe tão pouco sobre o ser humano. A nossa época conhece o delírio dos fanatismos que se multiplicam, a loucura das ilusões que se creem racionais, a cegueira de uma racionalidade penosamente técnica e económica que ignora a realidade profunda do humano. A missão do humanismo é a de reagir contra a conceção contemporânea dominante que cada solução é de natureza técnica e que ignora a importância do imaginário, do mito, da religião.”


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