O ARAUTO DO VALE
Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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Última Flor do Lácio
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2016/11/03265 leram | 0 comentários | 51 gostam
Nosso patrimônio maior é o idioma que nos faz singrar ...
A última flor do Lácio...
Aída BEZERRA
05 / 1996
"Inculta e bela", disse Bilac sobre a língua portuguesa que deu alma a Camões para ecrever o clássico "Os Lusíadas" a quem todo estudante de língua portuguesa tem obrigação de ser apresentado.
Por que Lácio? Lácio era uma região da Itália antiga onde se falava o latim. Dessa árvore muitas flores brotaram (o francês, o espanhol, etc)e a última, a mais brejeira, foi a língua que falamos e escrevemos. Como filha mais nova, ela herdou muito dos caminhos e experiências de suas irmãs mais velhas. Daí o seu lastro de riqueza, de amplitude, comunicabilidade e liberdade de se recriar.
Quando os navios a trouxeram para essa colônia tropical, ela não levou muito tempo para conversar e absorver os ganhos das línguas originais do Brasil, faladas pelas culturas tupi-guarani. Depois, mais nos enriquecemos com o que nos trouxeram os nossos irmãos africanos.
Agora, passados alguns séculos, já não podemos chamá-la de inculta. Talvez, a humildade de Camões o tenha levado a assim caracterizá-la porque a grandeza dos Lusíadas prova o contrário. E aqui no Brasil, os nossos Guimarães Rosas, Drummond, Machado de Assis, Chico Buarque, Cartola e tantos outros, não nos permitem essa falsa modéstia.
Mas bela, flor de muitas pétalas e muitas cores, sim.
E é essa a língua que estrutura as nossas idéias, articula o nosso pensamento. Quem pensa sem as palavras, sem o nome das coisas, seus atributos, e a identificação dos sentimentos? Quem sonha sem descrever as suas fantasias com os recursos do seu idioma de cultura, de raiz?
Apropriar-se sempre mais, cultivar e até cultuar essa riqueza de origem é também, ampliar-se, alargar as possibilidades de se dizer, de se saber; e portanto, de desvendar condições de aproximar-se dos outros e melhor entendê-los.
O triste é que nem todos conseguem transformar esse potencial em registro. Ainda somos, nesse sentido, lamentavelmente, um povo de maioria analfabeta. A escrita é a extensão, a visibilidade da fala, como o gesto. É a oportunidade de mais amplamente socializar as nossas idéias e artes. Todos, sem exceção, teriam que poder contribuir e usar desse tesouro. Por que não podem?


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