Um camião de plástico entra no mar a cada minuto | |
Por Almerindo Pinho (Professor), em 2019/06/20 | 316 leram | ![]() ![]() |
Reciclagem Entrevista. “Um camião de plástico entra no mar a cada minuto” 7/9/2018, 15:34 Depois de encontrar plástico onde não há gente, o ativista da Greenpeace Will McCallum escreveu um guia para acabar com esta dependência. | |
![]() Começou a interessar-se por tudo o que era natureza ainda em criança, com os documentários de David Attenborough. A partir daí decidiu que o seu papel não seria só de espectador e pôs-se a caminho. É o líder da campanha para proteção dos oceanos da Greenpeace, papel que o leva em aventuras como a mais recente: passar um mês num barco na Antártida a investigar até que ponto o plástico está a atingir a região mais remota do planeta. O cenário que encontrou está longe do ideal e, como tal, decidiu escrever o livro “Viver sem plástico”, no qual mostra que é possível viver — não dizemos sem — mas, pelo menos, com muito menos plástico e que existem pequenos passos que podem ter consequências positivas em casa, na nossa rua, em Portugal e até nessas terras geladas para onde costuma ir para provar que o impacto de cada um é mesmo global. Como nos tornámos tão dependentes do plástico? Não nos foi dada propriamente uma escolha. As empresas criaram uma situação em que é quase impossível passar um único dia sem usar um pedaço de plástico. Durante muitos anos a questão do plástico nos oceanos foi atribuída somente aos consumidores, mas agora as pessoas percebem que todos contribuíram para esse problema, o que significa que todos — incluindo governos e empresas — têm um papel a desempenhar para ajudar a resolvê-lo. Estamos a falar de anos de preguiça, de falta de interesse ou de falta de informação? Nenhuma delas. Já toda a gente teve a experiência de ir a um sítio super bonito no meio da natureza, encontrar lá plástico e ficar a pensar que, de facto, está mesmo em todo o lado. Mas a verdade é que, com tantos problemas para ultrapassar e escolhas para fazer no dia a dia, acabamos por ter outras prioridades que não a de diminuir o uso de plástico. Foi exatamente por isso que decidi escrever este livro, pode ajudar a facilitar essas escolhas e servir de guia para quem quer ir na direção certa. Como é que chegámos ao ponto em que temos verdadeiras ilhas de plástico (há uma no Pacífico que tem 17 vezes o tamanho de Portugal)? Um camião de lixo de plástico entra no oceano a cada minuto e, uma vez no oceano, pode ser transportado pelas correntes à volta do mundo. A verdade é que nós produzimos mais do que 300 milhões de toneladas de plástico por ano e nenhum sistema de controlo de resíduos está equipado para lidar com este volume. É muito ingénuo da nossa parte pensar que poderíamos criar um produto que é usado apenas uma vez, alguns por apenas poucos minutos, deitá-lo fora e pensar que isso não tem impacto no ambiente. Qual foi o pior exemplo da poluição que você viu até hoje? Encontrar plástico no Mar de Weddell, uma das áreas mais remotas da o planeta, é algo que nunca vou esquecer. Circundei um icebergue que era quatro vezes o tamanho do nosso navio, e do outro lado havia pedaços de plástico colorido. Foi devastador ver um cenário daqueles num ambiente tão puro. Fazer reciclagem deixou de ser suficiente? A reciclagem não é suficiente para lidar com a quantidade de plástico que produzimos. Tem um papel importante, claro, mas a única solução real para lidar com o problema é reduzir drasticamente a quantidade total que produzimos. Mas acredito que também haja bons exemplos. Qual foi o melhor que encontrou? Acho sempre que os melhores exemplos para reduzir o uso de plástico são os mais tradicionais: beber água da torneira, comprar a granel e fazer o almoço para levar quando sai de casa. Estas são soluções fáceis de pôr em prática e teriam, só por si, um impacto enorme. Will McCallum escreveu um livro de dicas para quem quer reduzir o uso de plástico Quem são as suas maiores influências neste mundo do ativismo ambiental? Há pessoas em todo o mundo a fazer um trabalho incrível, mas acho que Afroz Shah, na Índia, é uma inspiração absoluta quando se trata de diminuir o uso de plásticos. Ele conseguiu limpar uma praia que durante anos serviu de aterro sanitário, de tal forma que nem se via a areia. Depois de 85 semanas de trabalhos de limpeza e de terem sido retiradas mais de 5,3 toneladas de lixo, a praia está finalmente recuperada. O que é que começou por fazer no seu dia a dia para reduzir o plástico? Mudei muita coisa, mas talvez uma das coisas que teve mais impacto foi ter passado a fazer uma lista de compras. É algo que me ajuda organizar o dia a dia, comprar apenas a comida que preciso para os dias seguintes e ir preparado com sacos que me permitem fazer compras sem gastar mais sacos de plástico. É algo reduz não só o uso de plástico, mas também o desperdício alimentar. Eu tentei viver um dia sem plástico e falhei completamente. É possível, digo, mesmo possível viver sem plástico? Se estiver mesmo focado nesse objetivo, é possível sim. Há imensa gente que já o faz. Mas percebo que para a maioria essa meta é demasiado utópica. Para esses, recomendo que cada vez que sejam confrontados com plástico usado sem necessidade e que acham que o podem evitar, evitem-no. Nem que para isso se tenha que irritar com alguém, com o gerente da loja onde lhe é dado mais um saco de plástico, por exemplo. Quem quiser começar agora a reduzir o plástico no seu dia a dia, deve começar por onde? Comece com aquilo que chamo de “Big Four”: usar uma caneca de café reutilizável, um saco reutilizável, uma garrafa de água reutilizável e diga não às palhinhas. Além disso, se for fumador, saiba que as beatas são o item de plástico mais encontrado nas praias. Pode sempre usar isso como mais um motivo para deixar de fumar. FONTE: https://goo.gl/U878Hd | |
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